“Separar as águas.” Sindicatos e associações criticam apelo de Ventura para forças de segurança protestarem no Parlamento
O apelo do Chega subiu a debate no Fórum TSF. Os sindicatos e associações das forças de segurança deixam a decisão ao critério de cada um, mas o presidente do Sindicato do Corpo da Guarda Prisional garante que vai estar presente na quinta-feira
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André Ventura quer que as forças de segurança estejam no Parlamento, na quinta-feira, dia em que a Assembleia da República discute projetos de lei e resoluções do Chega sobre o subsídio de risco. No Fórum TSF, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) defende que é preciso "separar as águas" e considera que não é correto André Ventura fazer um apelo para a mobilização das forças de segurança, uma vez que, para Paulo Santos, essa é uma tarefa dos sindicatos. O presidente da ASPP não concorda com a atitude de André Ventura, mas também não pede aos agentes que não alinhem com o líder do Chega.
"Cada polícia está obviamente no espaço daquilo que é o seu direito individual de participar naquilo que bem entende. Em termos institucionais, nós não podemos misturar aquilo que é a componente política e a ação política e daqueles protagonistas políticos com aquilo que é a ação e a intervenção dos sindicatos. Estatutariamente, temos o direito à tendência, temos a preservação da distância daquilo que são movimentos religiosos, políticos, entre outros. Por isso, temos, obviamente, de respeitar os nossos estatutos e aquilo que é a nossa ação sindical, mas obviamente não vamos fazer nenhum apelo para não comparecerem, porque isso contraria aquilo que é o espaço de democracia e liberdade individual", explica Paulo Santos.
No mesmo sentido, o presidente do Sindicato de Oficiais de Polícia, também porta-voz da plataforma que junta todas as forças de segurança, nota que há uma "confusão de papéis" e que não é de "bom-tom" André Ventura apelar aos polícias para irem à Assembleia da República. Também ouvido no Fórum TSF, Bruno Pereira garante que o sindicato não vai participar no protesto, mas cada agente é livre de decidir.
"Os polícias estarão no seu direito de, também eles, demonstrarem mais uma vez, tendo em conta também que já passaram mais de seis meses e continuamos com esta questão por resolver, e possam querer, por iniciativa própria, fazer-se deslocar à Assembleia e estar lá como qualquer outro cidadão pode estar. Não me parece razoável aquilo que foi o apelo do doutor André Ventura, ainda que mostre a solidariedade que tem, indiscutivelmente reconhecida, pelo trabalho das forças de segurança e isso eu terei que naturalmente de saudar", sublinha Bruno Pereira, assegurando, ainda assim, que a plataforma não vai pedir aos agentes para não irem a esta concentração. "Não iremos aderir tendo em conta que ainda estamos em fase negocial."
Também a Associação de Profissionais da Guarda não acolhe o apelo de André Ventura. No Fórum TSF, José Miguel, vice-presidente da Associação de Profissionais da Guarda, fala em "populismo" e "oportunismo".
"Nós, enquanto associação mais representativa dos profissionais, temos os nossos associados a quem temos de dar responsabilidades e a quem temos de dar resultado daquilo que é o nosso trabalho. Claro que não podemos, de forma alguma, intervir diretamente naquilo que são as opiniões de cada um", afirma, alertando: "Nós não podemos condicionar e taxativamente dizer: 'Nós não queremos que vocês vão.' A associação, naquilo que é a sua direção, está à margem desta proposta."
Por outro lado, Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, aceita o desafio do Chega e garante que vai estar no Parlamento na quinta-feira.
"O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda não tem partidos políticos. O Sindicato Nacional é apartidário, mas não podemos deixar de apoiar qualquer partido político que leva ao Parlamento projetos de lei e votos de interesse do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, extensível a todos os guardas prisionais do país. Repare que há bem pouco tempo, há uns dois anos, estivemos presentes também a apoiar o PCP quando foi a apresentação do projeto de lei do subsídio de risco. Por isso, não vamos criar aqui bruxas onde não existem, não vamos criar polémica, o Sindicato Nacional está a dar a cara, porque irá estar presente, eu irei estar presente nas galerias", acrescenta.
