"Ser a primeira porta de entrada." Farmácias querem atuar "em complementaridade" com o SNS
As farmácias querem poder fazer uma primeira abordagem para avaliar o que pode ser tratado diretamente na farmácia comunitária, como medicamentos não sujeitos a receita médica ou medidas não farmacológicas, e os casos que carecem de referenciação para o médico, bem como fazer alguns testes de despistagem de infeções respiratórias ou urinárias.
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A presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) defende que as farmácias podem ser uma "primeira porta de entrada" no Serviço Nacional de Saúde, fazendo uma avaliação prévia das situações, o que reduziria a pressão sobre o SNS.
A intervenção das farmácias na jornada de saúde das pessoas vai ser o tema em destaque no 14.º Congresso das Farmácias, com o lema "A Saúde Próxima de todos", que se realiza até sábado no Centro de Congressos de Lisboa.
Ema Paulino explica que as farmácias podem fazer uma primeira abordagem para avaliar o que pode ser tratado diretamente na farmácia comunitária, como medicamentos não sujeitos a receita médica ou medidas não farmacológicas, e os casos que carecem de referenciação para o médico.
As farmácias querem também fazer alguns testes de despistagem de infeções respiratórias ou urinárias.
"O objetivo é formalizar estas intervenções e abrir redes de referenciação concretas à semelhança daquilo que já existe, nomeadamente, com a linha Saúde 24. Permite que as pessoas, quando são ouvidas pelo profissional que se encontra do lado, apresenta os seus sinais e sintomas e mediante perguntas colocadas pelo profissional, as pessoas são referenciadas, muitas vezes, até para a própria farmácia comunitária quer para outros níveis de intervenção. As farmácias querem funcionar em complementaridade com a linha SNS24, para fazer esta primeira intervenção de porta de entrada no sistema", diz à TSF Ema Paulino.
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Quanto ao risco de assumirem tarefas de médicos ou enfermeiros, a presidente da ANF promete que as fronteiras serão respeitadas.
"O que nós pretendemos é atuar sempre em complementaridade, respeitando as diferentes competências profissionais e as fronteiras entre as diferentes profissões, e podermos, de certa forma, complementar a sua ação e nunca extravasar aquelas que são as nossas competências e responsabilidades", sublinha.
Quando é que vão cobrar? Tudo "dependerá da contratualização desses sistemas, da complexidade da intervenção e também daquilo que se pretende assumir enquanto custos para a própria pessoa, para proporcionar-lhe um melhor acesso."
"Este encontro nacional dos farmacêuticos visa no fundo debater as muitas formas como as farmácias comunitárias, nomeadamente através das suas equipas altamente qualificadas, podem contribuir em complementaridade com as estruturas do Serviço Nacional de Saúde para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente em termos de poderem ser uma primeira porta de entrada para o Serviço Nacional de Saúde", defende, em declarações à agência Lusa, a presidente da ANF.
Segundo a responsável, esta "triagem prévia" reduziria a pressão também sobre o sistema de saúde e garantiria que "o investimento que a sociedade faz em medicamentos se transforma verdadeiramente em resultados em saúde e numa boa qualidade de vida para os portugueses".
"É sobre isto que nós queremos discutir, sobre assumir estas responsabilidades, e fazermos parte da solução para o Serviço Nacional de saúde e para um sistema nacional de saúde que se pretende inclusivo e equitativo e próximo das pessoas", salienta.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) concluiu recentemente que a expansão do papel das farmácias e dos farmacêuticos nos cuidados clínicos pode melhorar a acessibilidade aos medicamentos e a outros cuidados de saúde, otimizando os resultados da sua utilização
O Ministro da Saúde anunciou dois projetos que serão desenvolvidos este ano com as farmácias, em que estas podem fazer a renovação automática da medicação de doentes crónicos e a dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade.
Destacando o "grande impacto" destas medidas na vida das pessoas e no alívio da sobrecarga dos serviços e profissionais do SNS, a associação de farmácias defende que há outros procedimentos que poderiam melhorar todo o sistema, nomeadamente o farmacêutico comunitário poder alterar a dosagem do medicamente prescrito, o que atualmente não é possível.
"Tendo em conta que a renovação da terapêutica é um dos principais motivos de deslocação das pessoas que vivem com doença às unidades de cuidados de saúde primários em Portugal, seria uma medida com grande impacto numa melhor gestão da escassez dos medicamentos, na equidade no acesso ao medicamento", refere a ANF.
Ema Paulino adianta que há países que já adotaram este mecanismo, tendo protocolos de gestão de disponibilidade em que é feita uma avaliação sobre as alternativas existentes e o farmacêutico pode dispensar essa alternativa, evitando que o utente se desloque novamente ao médico para ter uma nova prescrição.
"Mas, ao dia de hoje, eu acredito que as pessoas não ficam sem alternativa e que o farmacêutico, dentro daquilo que pode fazer, contribui para que a pessoa tenha acesso ao seu medicamento, mas de facto é importante aprofundar estes mecanismos e trabalhar em conjunto os farmacêuticos, os médicos e as autoridades no sentido de serem identificadas estas situações e desde logo serem colocadas em prática", defendeu.