"Cansado", mas não pela obra, Siza Vieira mostrou a sua ala de Serralves que não chama pelo nome
O novo espaço custou dez milhões de euros, tem três pisos e surgiu porque o museu cresceu: "Precisava de aumentar, já estava limitado", explica a presidente da Fundação Serralves.
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São três os novos pisos que se abrem ao mundo por Serralves: um dedicado à arquitetura, outro a exposições com obras da coleção de Serralves e o mais térreo serve para guardar o acervo. Vai chamar-se ala Siza Vieira.
A TSF caminhou com o arquiteto pela obra recém-nascida e, quando questionado sobre como se sente ao passear-se por um espaço desenhado por ele e com o seu nome, Siza preferiu brincar: "Cansado."
Será do trabalho? Ou porque a obra é grande e há muito para andar?
"Pelo passeio."
E foi uma obra longa?
"Não, foi rapidíssimo. Projeto e construção em três anos, correu bem."
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Cansado, mas não muito, Siza esteve disponível para explicar o projeto e os detalhes que lhe dedicou. Por exemplo, a importância das janelas.
"Há poucas, mas são colocadas em sítios estratégicos para que, ao longo do percurso, se mantenha a ligação entre interior e exterior. Portanto, durante o percurso há sempre como que um ritmo de ligação no olhar sobre o exterior."
O exterior é a vegetação do Parque de Serralves, que quase que toca nos vidros, como acontece na Sala Inicial, uma espécie de átrio onde há um jogo de triângulos a fazer de janela. Siza sabe que não é uma sala qualquer, mas só depois de a desenhar é que encontrou razão para os triângulos.
"Porque é que surge a ideia do triângulo? Completamente, não sei porquê. A posteriori nota-se que a abertura na base e no topo, como que sugere que há um percurso para um lado e outro percurso no outro. É um triângulo, é um espaço de distribuição, não é um espaço de exposição."
Ouve-se ao fundo a voz de Ana Pinho, a presidente da Fundação de Serralves. Está preocupada com o cansaço de Siza Vieira, mas não deixa de explicar que nem a própria tem palavras para explicar o quão feliz é aquele momento.
A partir de agora, o museu tem ali um novo espaço que lhe permite continuar a sê-lo: "Um museu não é museu sem uma coleção, a coleção é a alma do museu, senão seríamos um centro de arte, que é diferente."
Olhando para trás, para o ano de abertura do museu - 1999 - assinala que o número de visitantes rondava os 80 mil. Vinte e quatro anos depois, está crescido tanto em visitantes como em relevância, e quis roupas novas.
"Precisava de aumentar, já estava limitado no seu espaço físico e, por isso, esta nova ala era fundamental para o futuro." O nome dela é o de Siza Vieira. Já o arquiteto - por modéstia e por medo da morte - prefere chamar-lhe ala Poente do Museu de Serralves.
A nova ala custou dez milhões de euros - quatro com origem em fundos comunitários - e permite um aumento de 44% na área de exposição do museu.
O arquiteto Álvaro Siza Vieira era já o autor do projeto que, em colaboração com a Fundação de Serralves, fez nascer em 1999 o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, em 2019 a Casa do Cinema Manoel de Oliveira e, em 2021, a construção da Casa dos Jardineiros e a recuperação da Casa de Serralves.
O novo edifício, ainda vazio, é inaugurado na quinta-feira e só recebe exposições em 2024, abrindo com uma exposição com peças da coleção permanente da Fundação de Serralves e uma mostra relativa à Arquitetura de Álvaro Siza.
A Ala Álvaro Siza tem um total de 4204 metros quadrados de construção, um aumento de 33% face ao atual Museu, com 1975 metros quadrados de área expositiva, mais 44% que a área atual.
A área dedicada às reservas terá 1117 metros quadrados, aumentando a capacidade atual em 75%.