O Oceanário é um dos espaços mais icónicos e duradouros da Expo 98. Faz 20 anos que os portugueses mergulharam nas profundezas do oceano e partiram à descoberta dos animais que o habitam.
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Apesar de vizinhos desde sempre, e de um longa história em comum, foi quando o oceanário abriu, em 1998, que os portugueses despertaram em massa para o som e as cores das profundezas do grande azul.
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Elsa Santos lembra-se de tudo como se fosse ontem. "O Oceanário era uma coisa diferente, era uma coisa única. E associado a esta grande exposição que foi a Expo 98... era uma coisa completamente fora do vulgar", conta.
Hoje, Elsa é aquarista supervisora de uma das áreas do Oceanário. Na altura, era uma jovem bióloga, que via nascer a oportunidade de uma vida.
Elsa recorda a azáfama dos dias antes da grande abertura: "Os animais estavam a chegar, o oceanário tinha mesmo que abrir naquele dia da exposição. Diariamente, recebíamos transportes de animais que vinham daqui e dali...".
Ao final do dia, os jovens biólogos terminavam o trabalho "todos completamente exaustos, mas super satisfeitos com o resultado". "Muitas vezes, depois sentávamo-nos em frente ao aquário, a apreciar o nosso trabalho e a comer pizzas - merecidas, depois daquele esforço todo!", lembra. "Ainda hoje recordamos tudo com muita emoção".
Do lado do público, o entusiasmo também não ficava atrás. À memória da bióloga vem a reação de duas senhoras "já com mais idade" que admiravam Napoleão, um grande e bonito peixe que habitava o Oceanário na altura, com exclamações deslumbradas: "Ah, que lindo! Que cores! Que maravilhoso!". Logo de seguida, o peixe abre a boca e deita cá para fora outro amigo peixinho que tinha escolhido para o almoço. Escusado será dizer que o "maravilhoso" Napoleão "passou de lindo a horroroso".
Elsa conta que houve também quem ficasse confuso com as campanhas publicitárias da Expo - que mostravam a imagem de bebés debaixo de água, a nadar - e aparecesse no Oceanário a perguntar onde ficava o "aquário dos bebés".
"Bicharocos embaixadores" dos oceanos
Vinte anos depois, muitas coisas mudaram, mas o fascínio por estes animais mantém-se. Elsa leva-nos para a superfície, para conhecer umas das "estrelas" da casa: os pinguins do antártico, que estão em época de acasalamento. "Eles formam casal para a vida e ocupam sempre os mesmos ninhos", explica. Os biólogos certificam-se de que não há cá "casamentos entre primos" e evitam a consanguinidade nos bebés que, muito em breve, vão nascer.
Para além dos animais que aqui são gerados, muitos são também os que chegam de outros aquários espalhadas pelo mundo e até os que vêm direitinhos do mar. Nestes casos, um período de quarentena é obrigatório antes de os animais serem introduzidos nos aquários.
Assim que passam a habitar o Oceanário, os amimais têm de habituar-se às rotinas de limpeza e alimentação da casa, e também aos novos colegas de quarto... Mas sim, estes bichos comem-se mesmo uns aos outros.
"O que nós fazemos é garantir que os animais estão saciados, estão bem alimentados", para não "potenciar essa necessidade de ir caçar". Mas "a predação acontece, como é natural. Isso existe, são comportamentos naturais que nós também não queremos anular", explica a bióloga.
Apesar da selva que o oceanário pode ser, Elsa garante que de cá não sai. "O Oceanário faz parte de mim, é a minha segunda casa. Se puder ir embora só dia de me reformar, seria muito bom!", brinca.
"Gosto de pensar que sou uma gota no oceano para ajudar outras gotas, que é o público que nos visita, a contribuir para o futuro dos oceanos", diz Elsa.
Porque, afinal, a missão do oceanário é mesmo essa: "Os nossos animais são embaixadores dos oceanos. Nós trabalhamos muito para que eles desempenhem esse papel, para que as pessoas saiam daqui emocionadas e possam contribuir para a conservação dos oceanos que, no fundo, não é mais do que contribuir também para a nossa sobrevivência".