"Sim, volto porque preciso que me amem." Maria do Rosário Pedreira em "O meu Corpo Humano"
"Cada poema tem o nome de uma parte do corpo. Da cabeça aos pés, o vento da poesia de Maria do Rosário Pedreira sopra-nos versos, como quem vai dissecando o mundo lá fora: "É sempre uma dor qualquer que faz disparar o poema", revela a autora para quem a escrita é uma terapia. Dez anos depois de " Poesia Reunida","O meu Corpo Humano", editado pela Quetzal, é um novo livro. Escrito com o coração na boca.
Corpo do artigo
"O móbil foi sempre o corpo", e à medida que o verso chegava, Maria do Rosário Pedreira foi tentando encaixar cada poema numa parte do corpo humano. Escritos recentemente, a maioria, a autora juntou outros mais distantes, e foi mudando a pele das palavras, às vezes as datas, vestindo neles a dor dos tempos presentes:" como os Seios, sobre a Síria, ou os Pulmões sobre a criança encontrada morta na praia da Turquia, ou a Coxa, que eu tinha feito para um livro sobre os pecados mortais, ou mesmo o Carpo, Metacarpo e Dedos, que eu tinha feito sobre a violência doméstica. Houve a possibilidade de alguns desses poemas já escritos poderem vestir uma outra pele, e houve de facto tantos poemas novos sobre partes do corpo, que eu percebi que havia a possibilidade de publicar." Fechada em casa, em plena pandemia, assim lhe bateu à porta a poesia, e é neste tempo recente que cresce o novo livro "O Meu Corpo Humano".
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João Luís Barreto Guimarães, poeta e médico, é quem vai dissecar este "corpo", na apresentação pública marcada para dia 21 em Lisboa, na livraria Ler Devagar- Lx Factory: "Gosto muito dele, somos amigos, e editamos os dois na Quetzal. Sendo médico, entende melhor o corpo humano , faz todo o sentido".
E sendo também responsável por uma cadeira de Introdução à Poesia, no Instituto Abel Salazar, a presença de João Luís Barreto Guimarães deixa adivinhar uma bela aula de anatomia, ao lado de Maria do Rosário Pedreira.
"Não sei se volto", escreveu a autora em "Poesia Reunida". Dez anos depois, diz-nos ela:
"É o meu corpo/humano: vê, ouve,/toca, pensa e/ dói-lhe./Volto porque/preciso muito/que me amem."