Sindicato descontente com resposta do Governo. Fundação tenta viabilizar futuro do Lar de Marvila
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, as palavras do Governo foram "só um conjunto de intenções".
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"Um balde de água fria." É assim que Orlando Gonçalves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), resume a reunião que esta segunda-feira juntou o Governo e o sindicato para debater o futuro dos trabalhadores do Lar de Marvila gerido pela Fundação D. Pedro IV que se prepara para fechar portas.
O sindicalista lembra a promessa as palavras da ministra Ana Mendes Godinho à TSF garantindo que seria encontrada solução para os 79 trabalhadores em risco de desemprego: "A própria senhora ministra tem de dar explicações não só aos trabalhadores como aos portugueses para quem falou, nomeadamente à TSF, que disse uma coisa e hoje é-nos transmitida outra coisa bem diferente."
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Para Orlando Gonçalves as palavras do Governo foram "só um conjunto de intenções, dizer que estavam a acompanhar o processo, que estavam a tentar junto da Santa Casa da Misericórdia e outras instituições ver o que era possível fazer, sempre a transmitirem-nos que não eram eles que podiam dar emprego e que estavam a tentar encontrar os locais, mas não deram qualquer tipo de garantias."
"Foi um balde de água fria as palavras que ouvimos", lamenta.
Orlando Gonçalves responsabiliza ainda o governo pelo fecho do lar mansão de Marvila: "Estes trabalhadores estão na situação em que estão, porque o Estado não está a cumprir com aquilo que tinha acordado com a fundação, nomeadamente na realização de obras e que levou ao despedimento destes trabalhadores e [o Estado] tem de assumir essa responsabilidade perante estes trabalhadores que é o próprio Estado que está a promover o desemprego de mais de 79 trabalhadores."
O presidente do sindicato diz que a situação é ainda mais "incompreensível" depois de o Governo ter anunciado a contratação de mais 15 mil trabalhadores para o setor social até ao final deste ano. "Como é que fazem falta 15 mil e não há um posto de trabalho para 79 trabalhadores?", questiona.
Fundação ainda tenta acordo com a Segurança Social
A dois dias do fecho do lar de Marvila, ainda não há solução para quase 130 dos utentes. A garantia é deixada à TSF pelo presidente da fundação que gere o lar. Vasco Canto Moniz diz, no entanto, que ainda procura uma solução que viabilize o futuro do lar.
"Nós estamos neste momento a elaborar uma última proposta para a Segurança Social, porque queremos ter toda a cooperação possível com o instituto. Aquilo que nos mandaram recentemente não é aceitável de forma nenhuma, portanto, nós ficámos de lhes mandar uma última proposta nossa. Depois disso, se eles aceitam, muito bem. Se não aceitarem, vão ter de assumir a responsabilidade daquele equipamento, que é deles", avança.
O presidente da Fundação D. Pedro IV vai mais longe e responsabiliza a Segurança Social pelo fecho do lar: "A Segurança Social decidiu uma coisa sem nos ouvir, sem nos perguntar, foi uma decisão unilateral dela, perfeitamente clara, que foi encerrar o lar. Não aceitou nenhuma das soluções que lhe fomos apresentando. Ao longo dos anos e mesmo depois de termos denunciado o acordo nós fizemos uma sugestão de entendimento para a qual também não tivemos resposta, mas as coisas são o que são. Só não compreendo o que é que se passa ali do lado do Instituto da Segurança Social."
Vasco canto Moniz revela no entanto que nos últimos dias tem sentido uma maior abertura ao diálogo.
"Os senhores do Instituto da Segurança Social perceberam que têm pela frente uma necessidade de intervenção deles neste processo que foram chamados a acautelar e a desenvolver, porque durante anos não responderam às sucessivas cartas. A primeira vez que lhes dissemos que ou isto muda ou nós denunciamos foi em 2017 e daí para cá foi sempre a reclamar a nossa situação. Nós reclamámos a situação que era insustentável e sempre com zero do lado da Segurança Social. Agora foram forçados a ter um diálogo, porque têm de tirar de lá as pessoas", sustenta.
O responsável lembra que retirar os utentes do lar envolve um processo burocrático, nomeadamente relativamente à passagem do historial clínico dos mesmos para a nova instituição, o que não permite que sejam retirados mais do que seis utentes do lar por dia.
"Retirar uma pessoa não é só o transporte, essa é a parte final de todo o processo de saída, para não falar de todo o processo emocional. Há pessoas que vivem lá há décadas", remata.
Vasco Canto Moniz adianta ainda à TSF que até ao momento apenas 15 utentes foram retirados do lar.