Greve mantém-se. ANTRAM tem até sexta-feira para fazer contraproposta aos motoristas
Motoristas apresentaram quatro pontos inegociáveis ao Governo. Cabe agora ao Executivo discuti-los com a ANTRAM.
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A reunião entre os sindicatos e o ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos acabou pouco antes das 21h e, para já, a bola está do lado da ANTRAM. Pedro Pardal Henriques, dirigente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) fez saber que a ANTRAM tem até sexta-feira para apresentar aos motoristas uma contraproposta que permita evitar a greve marcada para a próxima semana.
Os motoristas apresentaram quatro pontos inegociáveis ao Governo, que não revelam para já. Cabe agora ao Executivo mediar a discussão dos mesmos com a ANTRAM.
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No final da reunião, foi Anacleto Rodrigues, dirigente do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), o primeiro a tomar a palavra. "Foram 20 anos a ser literalmente explorados." Sobre a proposta da ANTRAM, conhecida ainda antes das reuniões, que prevê um aumento de 250 euros para os motoristas em janeiro de 2020, o dirigente alerta que tal não se aplicará a todos.
"É um aumento na retribuição base dos motoristas mais um prémio instituído pelos colegas das matérias perigosas. Esse aumento não é para todos os motoristas. Na generalidade, vão receber 104 euros de aumento. Os 250 euros de que a ANTRAM fala já incluem a contribuição social das empresas sobre os rendimentos dos trabalhadores", explicou.
Anacleto Rodrigues acusou então a ANTRAM de "iludir a opinião pública falando em 300 euros de aumento quando eles, quanto muito, vão aplicar-se a 1200 motoristas em Portugal e não aos 50 mil. Os 50 mil vão ter um aumento de 104 euros."
"Estamos a reivindicar um contrato coletivo que vá vigorar durante três anos e que reponha a valorização salarial que não houve em 20 anos", esclareceu.
"Vamos ver se se regista alguma abertura por parte da ANTRAM e, depois, vamos esclarecer os nossos associados e eles é que vão votar", afirmou.
Anacleto Rodrigues lamentou ainda a recusa em negociar por parte da ANTRAM, referindo que os trabalhadores vão continuar a "aguardar com tranquilidade" uma contraproposta dos patrões.
"O Governo demonstrou-se empenhado em utilizar a sua influência para que a ANTRAM possa voltar à mesa das negociações (...). Se não o fizer, vamos deixar à consideração dos nossos associados", salientou.
O representante do SIMM disse ainda que, na reunião de hoje, o Governo apresentou aos sindicatos "várias hipóteses", ou seja, um caminho alternativo à greve, considerando, todavia, que estas não satisfazem as necessidades dos motoristas.
"Há muito mais do que o salário em causa. Há os direitos dos trabalhadores, a não valorização salarial durante 20 anos. Não é só o salário-base e a greve. Há que perguntar porque é que se chegou aqui. É por isso que a ANTRAM continua a evitar o debate", declarou.
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O representante do SIMM recorda a viagem que o Presidente da República fez a bordo de um camião, em janeiro, para apelar à intervenção do chefe de Estado.
"Pela sua sensibilidade, já percebia que os motoristas estavam revoltados e que ficaram ainda mais revoltados quando entrou em vigor este contrato coletivo de trabalho. Tomou essa iniciativa talvez numa tentativa de apaziguar. Se a intenção era essa, este é um momento crucial para usar a sua influência e chamar todas as partes envolvidas para procurar um consenso", defendeu.
À saída do encontro, o outro interlocutor dos sindicatos, Pedro Pardal Henriques, garantiu aos jornalistas que a greve vai manter-se até a ANTRAM apresentar "uma contraproposta" que, a concretizar-se, será votada no sábado, dia em que ambos os sindicatos tem plenários marcados.
"Estamos sempre disponíveis para desconvocar esta greve, só não estamos quando não há vontade da outra parte [ANTRAM]", sublinhou o antigo vice-presidente do SNMMP.
De acordo com este responsável sindical, na reunião de hoje foram apresentadas ao Governo as condições das quais os motoristas não abdicam para que seja desconvocada a greve.
"O senhor ministro ficou hoje com um conhecimento muito mais profundo do que estava em cima da mesa e mostrou grande abertura e compreensão por aquilo que os motoristas estão a reclamar", notou o responsável do SNMMP.
Já relativamente às "linhas vermelhas" definidas pelos motoristas, Pedro Pardal Henriques escusou-se a avançar detalhes.
"Sexta-feira é o prazo-limite para nos apresentarem uma contraproposta que, depois, será votada num plenário que temos antes da greve e será a última oportunidade para desconvocar esta greve. Não está nas mãos dos motoristas a desconvocação da greve", concluiu.
A greve convocada pelo SNMMP e pelo SIMM, que começa na próxima segunda-feira, dia 12, por tempo indeterminado, ameaça o abastecimento de combustíveis e de outras mercadorias.
O Governo terá de fixar os serviços mínimos para a greve, depois de as propostas dos sindicatos e da ANTRAM terem divergido entre os 25% e os 70%, bem como sobre se incluem trabalho suplementar e operações de cargas e descargas.