"Sinto-me muito maltratada." Ana Jorge nega acusações de benefício próprio na Santa Casa
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social justificou a decisão de exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, acusando-a de "total inação" em relação aos problemas da instituição. À TSF, Ana Jorge nega todas as acusações, nomeadamente que tenha aumentado os membros da administração.
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Ana Jorge nega todas as acusações feitas pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, na terça-feira, à RTP. À TSF, a provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa afirma que se sente maltratada.
"Com 50 anos de Função Pública, foi a primeira vez que fui desta maneira tratada e isso é algo impossível de aceitar nesta fase da minha vida. Portanto, sinto-me muito maltratada", diz, referindo que ainda não pensou sobre se irá processar a ministra. "Neste momento, estou mais preocupada em demonstrar aquilo que foi feito."
Maria do Rosário Ramalho justificou a decisão de exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, acusando-a de "total inação" em relação aos problemas da instituição e revelando que Ana Jorge tinha aumentado as despesas com pessoas. Ana Jorge nega todas as acusações, nomeadamente que tenha aumentado os membros da administração.
"Nunca em tempo algum eu beneficiei em causa própria. Não houve qualquer decisão da mesa, nem nos pronunciámos sobre se alguma vez beneficiámos diretamente em relação a nós. Aquilo que houve, tanto quanto sei, porque foi verificado, foi a atualização de acordo com aquilo que é a lei que existe da administração pública. E, portanto, é completamente falso. Quanto à inação, não sei o que a senhora ministra se refere, fizemos um plano de grande intervenção com um ano muito duro e que pode ser demonstrado por números, por atividade, por tudo aquilo que irei dizer e apresentar no Parlamento. Considerando que fizemos um exercício de 2023 com muita dificuldade e tivemos um resultado positivo no final do relatório de contas de 2023, é impossível que em 15 dias ou três semanas de Governo a senhora ministra tenha um conhecimento detalhado de toda a atividade da Santa Casa. Nós não diminuímos nenhuma atividade social", garante Ana Jorge, em declarações à TSF.
Relativamente aos funcionários que ganham menos, Ana Jorge também nega todas as acusações.
"Sempre seguimos e atualizámos os vencimentos de acordo com a subida do ordenado mínimo, fizemos um acordo de empresa das carreiras gerais, beneficiando fundamentalmente os níveis mais baixos. A senhora ministra, quando falou comigo, disse-me que eu não devia ter feito isso dada a condição que a Santa Casa estava, segundo ela. Nós fizemo-lo tendo em atenção a preocupação dos trabalhadores e é evidente que não foi totalmente satisfeito tudo aquilo que eram os anseios dos trabalhadores da Santa Casa, que viam os seus ordenados e as suas promoções congeladas desde 2017. Mas foi aquilo que foi possível, considerando a situação financeira", sublinha.
Questionada sobre a forma como vê a decisão e as declarações da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Jorge admite divergências na conceção de apoios sociais, também por razões políticas.
"Parece que é em relação a tudo o que aconteceu com o Governo anterior e eu estava nomeada pelo Governo anterior, mas eu já lá tinha estado seis anos, conhecia a Santa Casa, não completamente, mas bem. A vontade de ter a Santa Casa não sei se também está relacionado com algumas vias da forma como eu vejo aquilo que é a ação social. Eu não me revejo do ponto de vista da intervenção social, com algumas políticas diferentes, considero que o apoio social deve ser no empoderamento das pessoas e não de caritativo. E essa é uma forma que é diferente daquilo que poderá estar em causa", acrescenta.
Ana Jorge tomou posse a 2 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.
Depois da sua exoneração, a provedora escreveu uma carta a todos os trabalhadores da SCML, na qual acusava o Governo de a ter exonerado de "forma rude, sobranceira e caluniosa" e que foi apanhada de surpresa.