"SNS está a tornar-se menos atrativo." Há mais 36 mil pessoas sem médico de família do que há um ano
A situação afeta já mais de 1,5 milhões de pessoas. Em declarações à TSF, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, aponta as razões para este aumento e deixa um alerta: é preciso ouvir e fixar os profissionais de saúde
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O número de utentes sem médico de família volta a aumentar: em fevereiro, havia mais 36 mil pessoas sem médico de família em comparação com o mesmo mês do ano passado. Em fevereiro de 2025, a situação afetava mais de 1,5 milhões de pessoas. Os dados constam no Portal do SNS e são, esta quarta-feira, citados pelo Jornal de Notícias.
Em setembro do ano passado, houve uma descida do número de utentes sem médico de família, mas a situação voltou a piorar no início deste ano. O jornal justifica esta tendência com a saída de profissionais e com as aposentações, mas também com o aumento do número de inscritos nos centros de saúde: foram mais 121 mil pessoas entre fevereiro de 2024 e o mesmo mês deste ano.
Com estes valores, mais de um 1,5 milhões de utentes estão sem médico de família há dois anos. Esta fasquia foi ultrapassada pela primeira vez em janeiro de 2023 e o pico foi registado em maio desse mesmo ano, com quase 1,8 milhões de pessoas nesta situação.
Em declarações à TSF, Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), admite "muita preocupação". "Mais uma vez, não fomos capazes de atrair e de fixar médicos de família no Serviço Nacional de Saúde e voltarmos a ter um saldo negativo entre entradas e saídas", sublinha.
Questionado sobre as razões que levaram a este aumento, o presidente da APMGF aponta a questão salarial, "mas não só". "Temos a questão das carreiras médicas que teima em não arrancar, a questão da avaliação e da progressão na carreira médica que continua completamente desajustada", refere.
Além da carreira em si, o presidente da associação afirma que as condições de trabalho não são apelativas e queixa-se das condições de trabalho e da falta de autonomia. "Temos algo que é reclamado há muito [tempo], que é a capacidade de dar mais autonomia às unidades na sua atividade diária e na flexibilidade de horários. Os sistemas de informação muitas vezes atrapalham mais do que aquilo que ajudam", diz.
Nuno Jacinto frisa que os profissionais sentem uma "falta de rumo". "Nunca sabemos muito bem como serão os nossos próximos meses, porque temos sempre mudanças atrás de mudanças que vão sendo introduzidas pelas sucessivas tutelas e direções executivas."
O presidente da APMGF defende que são precisas medidas para combater estas questões que, em conjunto, tornam o SNS "efetivamente pouco atrativo" para os médicos de saúde geral e familiar. "É preciso ouvir os profissionais, envolvê-los e fazê-los sentir que este é um projeto deles. Se nada fizermos, vamos continuar a olhar para este número como se fosse um dado inevitável, quando na realidade não o é. Nós formamos quase 500 médicos de família por ano em Portugal, temos capacidade para, paulatinamente, suprir estas necessidades, só não conseguimos fazer até agora porque não conseguimos atrair os jovens médicos para o SNS nem conseguimos fixar os que já lá estão", reforça.
Nuno Jacinto acrescenta que o Algarve, o Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo são as zonas do país onde esta falta de médicos de família é mais sentida, sendo Lisboa e Vale do Tejo a mais crítica, onde quase um milhão de pessoas são afetadas por esta situação.
Notícia atualizada às 09h06
