
Maria João Gala /Global Imagens
O presidente da Liga Portuguesa dos Bombeiros, António Nunes, fala de "uma mais-valia" para a Proteção Civil, mas não exclui a possibilidade de conflitos.
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Os bombeiros criaram um comando nacional próprio à revelia do Governo. A nova estrutura vai ser oficializada este sábado e na próxima semana os bombeiros tencionam pedir uma reunião ao Ministério da Administração Interna com vista a iniciar um processo de negociação.
"Há 150 anos, quando surgiu a primeira associação humanitária, também não pediu autorização a ninguém para se constituir. Portanto vamos constituir formalmente essa estrutura de comando operacional e depois vamos dialogar com o Governo", diz à TSF o presidente da Liga Portuguesa dos Bombeiros, António Nunes.
De acordo com o Jornal de Notícias, este comando nacional será uma estrutura de caráter voluntário e terá como diretor o comandante José Beleza, dos Bombeiros de Barcelinhos, e como adjuntos o comandante Guilherme Isidro e o comandante Vítor Machado.
António Nunes justifica a criação do comando nacional com o desejo dos bombeiros quererem ser comandados por bombeiros.
"Esta estrutura é uma estrutura profundamente democrática porque é uma estrutura eleita desde a base até ao topo, que está disponível para colaborar com a Proteção Civil, reconhecendo que à Autoridade Nacional de Emergência de Proteção Civil compete coordenar todas as ações de intervenção do nível mais elevado e no respeito pela lei de bases da Proteção Civil."
Apesar das garantias, António Nunes não exclui a possibilidade de conflitos.
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"Iremos ter o cuidado de tentar que não haja nenhuma espécie de conflito. Agora há aqui também uma questão que é preciso olharmos: naturalmente que reconhecemos que o Governo democraticamente eleito tem toda a legitimidade para reconhecer ou não reconhecer as estruturas, mas também é verdade que o Governo, através da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, tem que ter respeito pelos próprios bombeiros."
António Nunes, defende que, se for aceite, o comando nacional dos bombeiros será uma mais-valia para Proteção Civil, já que terá "outro espaço para que se reafirme, designadamente na área da prevenção, na área da logística, na área da organização, na área da gestão das comunicações, no interface entre meios aéreos e meios terrestres e no complemento de missões dos vários organismos num teatro de operações."
"A Proteção Civil, com este sistema, está a menos preocupada com os bombeiros e mais preocupada com a resolução do problemas, ou seja, com o combate, e não simultaneamente a resolver o combate e a resolver todos os problemas que os bombeiros lhe trazem para um posto de comando, designadamente de âmbito quer logístico, quer administrativo, quer de rendições, etc."
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Para António Nunes esta é também uma questão de respeito pela identidade destes profissionais.
"Nós só queremos equidade. Achamos que não há equidade quando os bombeiros são o único agente de Proteção Civil que o Governo não quer reconhecer com o direito a ter a sua capacidade autónoma de comando operacional de bombeiros."
O objetivo é que as funções desde comando vão desde a preparação de planos prévios de intervenção à organização de meios de resposta, passando pela articulação de teatros de operações.
Por exemplo, aponta António Nunes, na época de incêndios bastaria a um elemento dos bombeiros receber as orientações dos autarcas para transmitir essa informação aos restantes comandantes de bombeiros, "evitando duplicação de trabalho".