Sociedade civil espera "medidas concretas" e não apenas "boas intenções" de reunião com bispos
Afastamento de suspeitos, criação de uma nova Comissão Independente e um pedido de perdão concreto são algumas das propostas apresentadas ao episcopado.
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Na véspera do episcopado português se reunir a em Fátima para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, um grupo composto por mais de 20 organizações e associações católicas enviou aos bispos uma carta com várias recomendações.
Eugénio da Fonseca, antigo presidente da Caritas Portuguesa, é um dos subscritores. No Fórum TSF, pede à Igreja que tenha coragem para mudar e rejeita que a missiva seja uma forma de pressão.
"Não é uma carta de pressão, não é uma carta de reivindicação. É uma carta de apoio, sugerindo medidas objetivas, muito práticas, para que não se saia [da reunião] amanhã apenas com boas intenções, porque nós não gostaríamos disso, as pessoas não estão à espera disso e seria realmente muito pouco para o sofrimento que foi causado às vítimas, para as expectativas que foram criadas."
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Eugénio da Fonseca considera que os suspeitos de abusos sexuais de menores, ainda que não tenham sido formalmente acusados, sejam "dispensadas do Ministério Sacerdotal".
"Todas as pessoas que estão indiciados é preciso aprofundar se efetivamente se os abusos aconteceram. Isso agora pertence aos tribunais, na parte civil, e pertence aos tribunais eclesiásticos, na parte canónica e aí todos os casos que foram apresentados têm que ser devidamente analisados com total transparência e com total independência".
Carla Ferreira, responsável pela rede de apoio à violência de crianças e jovens na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) apela à criação de uma nova Comissão Independente para continuar a analisar casos de abusos sexuais de crianças na Igreja Católica e não só.
"Estamos a falar de um fenómeno que é transversal, que é universal (...) todos os locais onde as crianças e jovens se movimentam são locais de potenciais situações de risco. A não temos nenhuma pretensão de estancar, digamos assim, esta situação aqui na Igreja Católica", defende.
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Ano após ano, a APAV recebe cada vez mais pedidos de ajuda. "Há sempre uma tendência crescente relativamente às situações de violência sexual a contra crianças e jovens", lamenta.
Também a teóloga Teresa Toldi espera que os bispos passem das palavras aos atos e apela a "medidas concretas de apoio às vítimas" e um pedido de perdão, ainda que não possa "resolver o trauma vivido pelas pessoas concretamente".
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"Em todos os processos, tanto dentro da Igreja como em qualquer comunidade humana, sabemos que é muito mais fácil pedir perdão genericamente do que pedir perdão às pessoas diretamente a quem se fez a algum mal", nota. "Isso é um aspeto que espero que saia amanhã, que seja dito quais são as formas que a Igreja vai encontrar de apoiar as vítimas e de lhes pedir perdão".
O episcopado português reúne-se na sexta-feira em Fátima para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos em dez meses.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.