"Sociedade continua a valorizar Ensino Superior" mas candidaturas revelam "enorme desequilíbrio"
O líder do Sindicato Nacional do Ensino Superior defende que "é preciso mudar rapidamente a perceção social de que a profissão de professor não é digna" e fazer com que os "melhores alunos do país concorram aos cursos de ensino".
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O presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior afirma que a formação superior "continua a ser valorizada" pela sociedade, apesar da degradação salarial, mas lamenta que exista um "enorme" desequilíbrio nas candidaturas ao litoral face ao interior do país.
"Em termos numéricos, parece-nos que não se registou uma variação significativa em relação ao ano passado, o que é positivo porque continuamos com números bastante elevados de colocações e de candidatos nesta primeira fase, o que quer dizer que aparentemente a sociedade continua a valorizar o ensino superior apesar de alguns sinais contraditórios, nomeadamente em relação ao prémio salarial", destaca José Moreira, em declarações à TSF.
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Para o líder sindicalista, isto significa que os jovens e as famílias veem o ensino superior muito para "além da questão salarial" e passam a ter em linha de conta que estas instituições contribuem, sobretudo, para "a sua formação enquanto pessoas", um papel que José Moreira considera ser "fundamental".
"Estamos satisfeitos com os resultados", assume, lamentando, contudo, que existam "alguns indicadores" que continuem a ser motivo de preocupação.
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"Alguns indicadores continuam a preocupar-nos. Como haver enorme desequilíbrio entre a ocupação no litoral e no interior, que é grave do ponto de vista das dinâmicas do território e nós pensamos que uma das maneiras de contrariar esta questão seria apoiar a fixação dos jovens no interior, ou seja, apoiar os alojamentos dos jovens que se quereriam deslocar para o interior", defende o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior, que afirma acreditar que existam jovens que só não mudam de cidade aquando a entrada no ensino superior "porque as suas famílias não têm capacidade para esses gastos".
José Moreira insiste ainda que a dificuldade é sentida não só nas cidades de Lisboa e do Porto, mas também no que diz respeito à mudança "entre cidades do litoral e do interior".
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Este ano, um dos destaques é o aumento do número de estudantes que decidiram escolher as licenciaturas em Educação Básica. De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, 923 alunos ficaram colocados nesta fase, um aumento de 21% quando comparado com os valores de 2022. Estes mais de 900 candidatos acabaram por ocupar 97% das vagas disponibilizadas. Sobre isto, o líder do sindicato afirma que é preciso que os "melhores alunos do país concorram aos cursos de ensino".
"É preciso mudar rapidamente a perceção social de que a profissão de professor não é digna, até porque é uma profissão essencial para a manutenção do nosso desenvolvimento e até da nossa identidade enquanto país", diz, sublinhando, contudo, que apesar de haver um aumento do número de candidatos para formação no ensino básico, o que acontece com o ensino secundário é "um paradoxo".
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"Começou a aumentar enormemente a procura e as universidades estão sem capacidade de formação, porque durante os últimos anos houve um grande decréscimo da procura motivado pelo desemprego crescente e por alguma falta de planeamento - que enquanto sociedade somos especialistas -, e, neste momento, o que nós temos é as universidades não terem equipas formadas para rapidamente darem resposta com um curso de formação de professores do ensino secundário", salienta.
José Moreira alerta, ainda, que existem muitos cursos de engenharia que ficaram "desertos ou quase desertos", um fenómeno que classifica como "grave, por duas questões": "Primeiro é grave para o país porque estes técnicos são necessários, a formação em engenharia é muito necessária para o país e, por outro lado, para as instituições porque debilita as instituições, já que muitos destes cursos tendem a fechar ou a haver pouco investimento neles, o que faz com que manter as equipas que os põem a funcionar seja muito difícil e, uma vez que as equipas desaparecem, é muito difícil voltar a arrancar com as formações."