A 9 de março de 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal. Foi só em 1917 que o país entrou em combate. O mais famoso herói da participação de Portugal na I.ª Guerra Mundial foi o Soldado Milhões.
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O aliado de sempre, a Inglaterra, havia pedido aos portugueses que aprisionassem todos os navios alemães e austro-húngaros que estavam ancorados na costa portuguesa. Um ano depois o corpo expedicionário português partia para a Flandres, onde em 1918 se deu a mais conhecida e sangrenta disputa dos portugueses. A batalha de la Lys. Foi lá que grande parte do contingente nacional perdeu a vida ou foi feito prisioneiro. No meio do caos, um nome ficou para sempre marcado na história da guerra e de Portugal, O soldado Milhões.
Aníbal Augusto Milhais nasceu na aldeia de Valongo no concelho de Murça em 1895. Em La Lys fazia parte da 2ª divisão portuguesa que foi completamente dizimada pelos tanques e soldados alemães. À ordem de retirada, Milhais preferiu ficar na trincheira e enfrentar as colunas alemães a ser morto pelas costas, como o próprio contou à sua filha mais nova, que em 1968 o gravou. "Foi então que abri fogo, essa invasão caiu toda. Passado uma hora, ou isso, veio-me outra igual. Fiz-lhe fogo quando chegaram ao mesmo sítio dos outros, com a metralhadora fazia muito fogo. Mais tarde veio outra, outra invasão, já não era tamanha, cortei-a também".
Sozinho, na sua trincheira, durante quatro dias, enfrentou os alemães, o que permitiu a retirada de muitos soldados portugueses e escoceses para as posições defensivas da retaguarda. Milhais foi, meses mais tarde condecorado. Foi nessa noite que o comandante lhe mudou o nome de Milhais para Milhões. " Nessa noite num jantar disse-me o meu comandante, o meu comandante Ferreira do Amaral, eu disse-lhe que era Aníbal Augusto Milhais e ele disse: és Milhais mas vales milhões".
De volta a Portugal e depois de conhecidos os seus feitos, o governo português mandou alterar o nome da sua aldeia natal de Valongo para Valongo de Milhais como diz Eduardo Milhões, o neto mais novo do soldado herói. "Que era na realidade o apelido dele, Milhões era uma alcunha que depois passou a ser nome, tanto que o meu apelido é também Milhões. No registo a pessoa que fazia o nome pôs Milhões, a minha mãe era Milhões, cinco tios meus são Milhões e é com muito orgulho tenho no meu nome e fiz questão que os meus filhos tivessem no seu nome".
Fica perpetuada a memória do único soldado raso, que em 100 anos recebeu a mais alta condecoração nacional, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Na primeira guerra mundial perderam a vida quase 10 mil portugueses. Milhões, o herói, morreu em 1970, como nasceu e sempre viveu. Agricultor e pobre. Está sepultado no cemitério da sua aldeia. Valongo de Milhais.