A missão tem como destino dois asteroides e vai contar com "um empurrãozinho" da gravidade do planeta vermelho, para dar seguimento a uma investigação da NASA
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Uma sonda da Agência Espacial Europeia (ESA) vai passar esta terça-feira perto de Marte, numa missão apoiada por um grupo de engenheiros portugueses. Chama-se "Hera" e faz parte de um projeto que contou com a participação da GMV, uma empresa espanhola que tem Francisco Cabral a liderar a equipa em Portugal.
Foram os portugueses que prepararam o piloto automático desta sonda, que vai ser testado quando entrar na órbita do planeta vermelho. Ouvido pela TSF, o engenheiro explica que o objetivo da missão é estudar dois asteroides, ao pé de Marte, e a passagem pelo planeta vermelho vai servir para testar o piloto automático, mas não só. "É uma manobra bastante comum em que usamos um planeta para fazer um swing-by — acho que não tem tradução para português — que implica usar a gravidade de Marte como uma espécie de yo-yo gravitacional para dar-nos um empurrãozinho", explica o chefe do projeto.
Embora este sobrevoo não faça parte dos objetivos principais da missão, representa uma oportunidade valiosa para calibrar os instrumentos da sonda e testar os sistemas autónomos desenvolvidos pela GMV. Em particular, a sonda irá, durante a sua observação de Marte, ativar o sistema autónomo de feature tracking desenvolvido pela GMV, que vai identificar marcos na superfície de Marte e fazer o seu seguimento.
O destino, elabora Francisco Cabral, são dois asteroides que já foram estudados pela NASA, em novembro de 2021: "A missão, chamada DART, fez impactar uma sonda contra o asteroide mais pequeno, chamado Dimorphos, com o objetivo de tentar desviar a sua órbita. Foi uma espécie de teste para ver se, no futuro, quando tivermos um asteroide a vir em direção à Terra, conseguimos fazer essa modificação."
Agora, a missão é dar seguimento ao trabalho dos norte-americanos e há dois objetivos principais. "Primeiro, vamos medir o quão modificada ficou a órbita deste asteroide e, depois, vamos ver a cratera que este impacto deixou, o que vai permitir perceber melhor como funcionam estes fenómenos de mudança de trajetória por impacto", detalha o engenheiro.
A sonda não vai voltar à Terra, mas a informação vai ser enviada para os responsáveis pelo projeto. A "Hera" passa esta terça-feira ao pé de Marte, a cerca de cinco mil quilómetros da superfície do planeta e está previsto que chegue ao pé dos dois asteroides em dezembro de 2026, depois de uma viagem de mais de 177 milhões de quilómetros, desde a Terra.
