"Sou mãe solteira, tenho duas filhas e preciso de um teto." Moradora consegue evitar ordem de despejo no Talude em Loures
Maria da Mota, uma das moradoras do Bairro do Talude, contou à TSF como conseguiu evitar a ordem de despejo. O pessoal da Câmara Municipal de Loures foi sensível aos argumentos utilizados
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A Câmara Municipal de Loures quer demolir pelo menos mais cinco barracas no Bairro do Talude. O edital foi publicado na noite de segunda-feira na página de internet do município e esta terça-feira de manhã já estava afixado nas portas dos moradores. A TSF saiu à rua e assistiu à afixação destas notificações por parte dos serviços de ação social da autarquia. Por lá, conheceu Maria Mota, uma moradora que conseguiu evitar a ordem de despejo.
São duas folhas A4 presas com fita-cola nas paredes das barracas dos moradores, onde consta também (escrita à mão) a hora exata a que foi afixado o aviso. O conteúdo pouco ou nada muda, em relação aos despejos de 14 de junho: 48 horas depois da hora que estiver indicada, as barracas com o edital na porta vão ser demolidas a qualquer momento.
Os editais foram afixados por dois funcionários dos serviços de ação social da Câmara Municipal de Loures, que disseram aos moradores para se deslocarem ao Centro Cultural de Sacavém, para lá receberem mais informações. Houve, no entanto, uma moradora que conseguiu que o pessoal da câmara fosse sensível aos argumentos e evitar a ordem de despejo.
"Portugal não me oferece uma casa que eu consiga pagar com o meu salário. Não tenho alternativa e na rua eu não posso estar. Eu tenho de ficar na casa que fiz com o meu próprio suor. Então, vi-os hoje a meter novamente o edital e disse-lhes: 'Sou mãe solteira e tenho duas filhas estudantes a viver comigo. Eu preciso de um teto'", contou Maria Mota.
"Encaminharam-me para a Casa da Cultura e aquilo que a assistente me falou comigo foi que eles vão voltar para avaliar a situação, mas, por agora, a minha casa foi livre do tal edital para ser destruída em 48 horas", explicou.
A confirmar-se (salvo eventuais providências cautelares, isto é), prevê-se então uma segunda vaga de demolições de barracas em menos de dois meses no Bairro do Talude. A primeira, a 14 de julho, obrigou à intervenção da polícia e motivou à abertura de um inquérito por parte do Ministério Público. Gerou também uma vaga de solidariedade, nomeadamente com ações de limpeza do terreno.
Apesar de tudo isto, o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, deixou claro que vai continuar a demolir casas ilegais em todo o concelho de Loures, incluindo no Bairro do Talude.
Para os moradores com ordem de despejo, a autarquia mantém os apoios: um mês de renda e a eventual caução de uma nova casa. Muitos insistem que não é suficiente e continuam a optar por reconstruir as barracas, no mesmo local onde foram abaixo, pois garantem que não têm para onde ir.
