"Subir às montanhas da vida" também é subir o Pico. E daí, "nunca mais se para" até à JMJ
Corpo do artigo
A subida ao ponto mais alto de Portugal levou cinco horas. Cinco foram também as desistências durante a conquista do Pico, nos Açores, para celebrar a missa mais alta da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2023/07/pico_missa_20230725131558/hls/video.m3u8
"A vida não vai parar", cantam aqueles que vieram das várias ilhas dos Açores para calcorrear o caminho instável, com muitas pedras soltas, que leva ao topo do vulcão adormecido. Bianca Rodrigues e Xana Araújo são duas das integrantes do maior grupo de jovens que participa na subida. Com elas, mais 44 jovens da ilha de São Miguel foram ao Pico.
"Foi difícil, não vou dizer que não", admitem à TSF, "mas viemos sempre com a mentalidade de que quando chegássemos ao cimo ia valer a pena".
TSF\audio\2023\07\noticias\25\direto_ruben_pico
A dupla micaelense não chegou aqui de mãos a abanar. Trazem mantas, comida, mas também algum condicionamento físico, feito ainda na ilha natal: "Umas caminhadas, em São Miguel temos um monte que é quase do tamanho do Piquinho e eu subi-o para ver mais ou menos como ia ser".
O Piquinho, na cratera do vulcão e com perto de 70 metros de altura, é o ponto mais alto - e uma formação relativamente recente - da montanha do Pico, que mede 2351 metros no seu conjunto: "Já sabia que ia ser difícil, mas nunca disse que ia desistir e nunca disse que não ia conseguir. Vim sempre com a mesma vontade de querer chegar lá acima, sabendo que quando chegasse ia ter uma grande surpresa."
Bianca e Xana estiveram, antes, na chamada celebração de envio, onde leu uma mensagem em que se dizia que "queremos subir às montanhas da vida, às montanhas onde o outro e o mundo carecem da nossa presença e ação. Subir às montanhas onde falta a misericórdia e a esperança, a alegria e a vida".
Acreditam que a JMJ deste ano, em Lisboa, as vai ajudar a cumprir o desafio lançado, até porque a subida da montanha - neste caso, o Pico - não acontece só fisicamente: "Acredito que espiritualmente tenha renovado a fé de muitas pessoas."
Lá do cimo do Pico viram o nascer do Sol, que deixou a descoberto algumas partes da ilha, embora as nuvens do início da manhã tenham tapado as outras ilhas do grupo Central.
Dinis Silveira, um dos oito párocos da diocese de Angra, também conquistou a montanha. Quando começou a subi-la, fez saber que iria à retaguarda do grupo que acompanha porque não podia deixar para trás "os seus rapazes".
Toma-o como um exemplo que quer dar "tendo em conta aquilo que é a dinâmica da Igreja atualmente, a chamada caminhada sinodal". Nela, caminha-se em conjunto e isso "significa caminhar lado a lado".
Como responsável pelos jovens da sua ilha, quis "tomar conta deles, vir com eles e subir com eles para fazer esta caminhada extraordinária. Dura, mas extraordinária".
A mais de dois mil metros de altitude e com um "autêntico tapete de nuvens aos pés, onde mal se consegue vislumbrar a Terra", descreve o cenário como "absolutamente extraordinário" e a experiência como "marcante para os miúdos que subiram a montanha".
Pelas suas contas, da ilha de São Jorge irão "20 e tal jovens" à JMJ, mas a preparação "começou com a visita que os símbolos fizeram à diocese de Angra no ano passado, no mês de junho, e a passagem pela Ouvidoria de São Jorge, que engloba os dois concelhos de Velas e Calheta".
A partir daí a preparação "tornou-se mais próxima, com as catequeses, e sobretudo com a visita dos símbolos, pegamos nos símbolos da JMJ e fizemos uma peregrinação pelas 13 paróquias da ilha".
O bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, pernoitou no Pico, mas o sono nunca lhe chegou: "Não consegui dormir nada", reconhece à TSF enquanto explica que, ainda assim, não perdeu forças.
"Eu não vim só ao Pico, já estou a descer do ponto mais alto da montanha [Piquinho] e lá, de facto, é deslumbrante. São 360 graus, o que havemos de dizer? Está lá um ventinho fresquinho, mas é fantástico", garante.
Confia que, depois da subida à montanha, os jovens "têm de sair" dela com o espírito certo para Lisboa, até porque quem vai ali acima "já nunca mais para".
"Vai ser uma belíssima jornada mundial, vai, creio que sim. Acho que nem todos irão lá, mas isto já é jornada, porque é aqui que nós começamos, é aqui que vamos fazer o envio e é aqui também que vamos assumir compromissos", anunciou o bispo.
E o compromisso mais urgente é, ali, ver o nascer do Sol no Pico. Daqui a uma semana, o mesmo Sol terá o Tejo por baixo.
