Supremo dá razão a tripulantes da TAP dispensados na pandemia. Companhia aérea poderá ter de pagar até 300 milhões de euros
Os tripulantes a que agora o Supremo Tribunal deu razão tinham sido dispensados pela companhia aérea em 2020 e 2021, não terminando os seus contratos de trabalho a termo
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O Supremo Tribunal de Justiça deu razão aos tripulantes da TAP dispensados na pandemia que exigem retroativos por não terem sido integrados atempadamente nos quadros da empresa e a companhia poderá ter de pagar até 300 milhões de euros.
Segundo noticia o Diário de Notícias (DN), há cerca de 2000 tripulantes admitidos desde 2006 que podem fazer a mesma exigência, o que, segundo o líder sindical Ricardo Penarróias deverá ascender a uma despesa entre 200 a 300 milhões de euros para a TAP.
Os tripulantes a que agora o Supremo Tribunal deu razão tinham sido dispensados pela companhia aérea em 2020 e 2021, durante a pandemia, não terminando os seus contratos de trabalho a termo.
O tribunal concluiu agora que os contratos de trabalho a prazo na TAP estavam mal fundamentados e que os trabalhadores em causa deveriam estar integrados no quadro de pessoal como efetivos, desde o primeiro dia, pelo que lhes é devido o pagamento de retroativos.
A decisão abre porta a que cerca de dois mil tripulantes admitidos na TAP com contratos a prazo desde 2006 possam avançar com a mesma exigência.
Para a decisão do Supremo contribuiu um parecer jurídico elaborado em 2021 pela professora catedrática Maria do Rosário Ramalho, atual ministra do trabalho e Segurança Social, a pedido do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, segundo disse ao DN o presidente da estrutura sindical, Ricardo Penarróias.
O sindicato diz que chamou a atenção de vários ministros de sucessivos governos para o problema e manifesta-se disponível para reunir com a administração da TAP para tentar encontrar uma solução positiva para todas as partes, mas a decisão sobre cada processo será sempre dos trabalhadores.
Em causa está a forma como a TAP justificou o recurso a contratos de trabalho a termo para reforçar as suas tripulações de cabine.
Segundo escreve o DN, entre 2006 e 2018, a prática corrente na companhia aérea consistia nos novos tripulantes serem recrutados com contratos a termo com um período máximo de três anos. No entanto, era dado como adquirido que a empresa passava essas pessoas para os quadros - para a categoria CABI - ainda antes do final deste prazo, assim que existisse necessidade de reforçar algumas rotas para as quais é preciso pertencer a essa categoria.
"Decisão que repõe a justiça"
O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil espera que a TAP cumpra a decisão do Supremo Tribunal de Justiça.
Ricardo Penarróias, presidente do sindicato que representa as tripulações, considera que é uma "decisão que repõe a justiça", acrescentando: "É uma das últimas demonstrações da má gestão que ocorreu aquando da Covid-19, desde os acordos de emergência aos despedimentos coletivos."
"A TAP foi crescendo à custa também dos salários e da estabilidade dos trabalhadores"
A decisão da justiça abrange muitos tripulantes, explica ainda o sindicalista.
Ricardo Penarróias afirma igualmente que a privatização não pode prejudicar os trabalhadores. Pelo contrário, eles devem ter "uma voz ativa em todos os processos".
"Já que estamos numa fase de pré-privatização, espero que isto seja um sinal de que tanto as administrações, tanto o Governo, tanto os possíveis interessados na TAP, que falem, dialoguem, consultem os sindicatos para abordar o tema. Não é abordar o sindicato apenas quando já estiver tudo feito e apenas para darmos um sinal verde ou não sobre a questão", argumenta.
