"Taberna" e "fruta podre". Racismo nas forças de segurança separa Ventura das restantes bancadas

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Na Assembleia da República, os deputados debateram os alegados casos de racismos na PSP e GNR e a discussão serviu para marcar diferenças para o partido de André Ventura.
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O debate sobre os alegados casos de racismo nas forças de segurança, revelados pelo consórcio português de jornalismo de investigação, foi pedido pelo Chega e o partido de André Ventura foi mesmo o alvo das restantes bancadas.
Ventura utiliza os alegados casos de racismo, de cerca de 600 policias, para falar numa perseguição política às forças de segurança, "a maior desde o 25 de abril", mas a grande maioria dos deputados pede que "se separe o trigo do joio".
Na intervenção inicial, no púlpito, André Ventura referiu-se aos agentes das forças de segurança como "heróis nacionais". Coelho Lima, do PSD, concorda, mas destaca algumas diferenças.
"São heróis nacionais, sim. Mas não são heróis apenas do Chega. São heróis da Iniciativa Liberal, do PSD, do PS, do Livre, do PAN, do PCP e do Bloco de Esquerda. São os heróis do país. Não nos dividamos", apelou.
Da bancada do Chega ouviram-se bastantes apartes, com os deputados a insurgirem-se contra as palavras de Coelho Lima, o que levou o social-democrata a pedir a André Ventura para "calar um pouco quem está a perturbar".
"Vocês tentam transformar isto numa taberna, mas nós não vamos deixar", atirou, aplaudido por todas as bancadas, com vários deputados socialistas a levantarem-se para um aplauso de pé.
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No entanto, Ventura respondeu, argumentando que "os aplausos do PS" demonstram que o PSD "se está a afundar e a enterrar cada vez mais".
Já Isabel Moreira, do PS, deixou críticas às prioridades do Chega, que "ergue a voz nunca em defesa das vítimas de crimes graves motivados por ódio e racismo".
"Quando dizem, imediatamente, que estão do lado da polícia, estão a passar um atestado de menoridade às forças de segurança", acrescentou.
E, Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, ilustrou o debate com uma imagem: "um cesto de fruta". "Há quem veja uma peça de fruta podre e queira salvar o resto da fruta, retirando a peça podre. O Chega faz o contrário, espera que toda a fruta apodreça para bater palmas", acrescentou.
Nas galerias da Assembleia da República, estavam membros de sindicatos das forças de segurança, que ouviram Rui Tavares fazer a distinção entre "bons e falsos amigos". "Os verdadeiros amigos dizem-nos a verdade, acompanham-nos e protegem-nos. Os falsos amigos bajulam, manipulam e usam", disse, numa referência ao partido de André Ventura.
O Governo não se fez representar no debate, mas o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, já respondeu aos deputados, em comissão, onde garantiu que "não há infiltração intencional" de forças de extrema-direita na PSP e GNR.
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