Taliban prometem respeitar direitos das mulheres. "Essas palavras por enquanto valem muito pouco"
Augusto Santos Silva manifesta preocupação em relação aos grupos mais vulneráveis agora no Afeganistão: mulheres e meninas, a quem os taliban prometeram "respeito". O ministro advoga que, para já, e com o passado ainda a ensombrar o povo afegão, estas ainda são palavras vazias.
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Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, garante que, quando se fala dos que precisam de proteção humanitária, as mulheres e as crianças surgem no topo da lista, e olha com preocupação para a situação das afegãs, apesar de os taliban terem prometido "o respeito pela dignidade das mulheres e pelos seus direitos".
"Tenho ouvido as palavras proferidas dos altos responsáveis do movimento taliban", reconhece o ministro, manifestando depois ceticismo. "Essas palavras por enquanto valem muito pouco. É melhor que estejam a ser ditas essas palavras em vez de outras, de ódio, mas o que é importante mesmo é que a prática corresponda às palavras."
Para o governante, ouvido pela TSF, esquecer o passado é tarefa impossível. "As meninas e as mulheres são hoje dos grupos mais vulneráveis por causa do histórico da relação dos taliban com elas, e pelo muito que sofreram no regime taliban no Afeganistão no passado", defende.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros afirma que Portugal faz parte do grupo de países que subscreveram uma declaração a defender o direito de quem se sente em perigo no Afeganistão a poder abandonar o país. Esta é uma medida que se aplica a qualquer pessoa em risco. Augusto Santos Silva confirmou que Portugal já se disponibilizou para receber 50 afegãos. "Portugal já sinalizou a sua participação nesse esforço, propondo o primeiro conjunto de 50 cidadãos afegãos a acolher, no quadro dessa salvaguarda da vida de afegãos que colaboraram com as forças internacionais. Essa é uma primeira etapa, e, neste momento, já se está a proceder à respetiva operacionalização."
"As equipas técnicas já estão a trabalhar para assegurar a concretização desta etapa", adianta o ministro. Já a segunda etapa é da responsabilidade de toda a Europa, de forma equilibrada e planeada, para "cumprirmos o nosso dever, à luz da lei humanitária internacional, de acolher refugiados e requerentes de asilo que venham do Afeganistão, em resultado da insegurança que agora se vive nesse país".
Augusto Santos Silva sublinha que é importante garantir que tudo decorre de forma organizada: "Primeiro, garantir proteção às pessoas, no quadro do direito internacional humanitário, e, ao mesmo tempo, impedir fluxos maciços, irregulares, descontrolados de migrantes oriundos da Ásia Central, porque isso diminui muito a nossa capacidade de acolher e integrar quem precisa de ser acolhido e integrado agora na União Europeia."