Taxa de emigração mais alta da Europa tem "impacto importante na demografia" de Portugal
O coordenador científico do Observatório da Emigração sublinha no Fórum TSF que, ao contrário do que se pensa, os novos emigrantes não são os mais qualificados.
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Portugal tem hoje a mais alta taxa de emigração da Europa e uma das mais altas do mundo, segundo dados avançados esta sexta-feira pelo semanário Expresso, que citam o estudo Atlas da Emigração Portuguesa, que será apresentado na próxima semana. No Fórum TSF, Rui Pena Pires, coordenador científico do Observatório da Emigração, diz que não está nada surpreendido com estes dados.
"Vive fora de Portugal mais de 20% da população portuguesa, à volta dos 23%. Vivem fora de Portugal mais de um quarto dos jovens, provavelmente está perto dos 30%. Vivem fora de Portugal também mais de um quarto, quase 30% das mulheres em idade fértil e tudo isso tem um impacto importante na demografia, tem um impacto imediato e tem um impacto a médio prazo porque com a imigração de mulheres em idade fértil para fora de Portugal, aumenta o número de nascimentos de portugueses fora de Portugal e diminuiu o número de nascimentos de mães portuguesas em Portugal, o que é absolutamente normal. Agora nós não nos podemos espantar muito com o que está a acontecer. Vamos ter sempre emigração nesta ordem de grandezas, entre as 50 mil e as 65 mil pessoas porque Portugal está inserido num espaço de livre circulação e é um país menos desenvolvido do que outros países da União Europeia", explicou à TSF Rui Pena Pires.
O especialista sublinha que, ao contrário do que se pensa, os novos emigrantes não são os mais qualificados.
"Nós temos hoje a ideia de que a nossa emigração é maioritariamente constituída por pessoas muito qualificadas e isso não é verdade. É verdade que as pessoas qualificadas emigram em maior proporção do que as pessoas não qualificadas, mas a maioria da nossa população adulta não tem licenciatura, portanto é uma população pouco qualificada. Dentro de alguns anos deixará de o ser. O aumento da qualificação dos portugueses emigrados está em boa parte relacionado com aumento de qualificação da população portuguesa, mas nos últimos anos, a maioria dos emigrantes portugueses que entrou em países como a França, como a Alemanha, como a Suíça continuam a ser não licenciados", esclareceu o coordenador científico do Observatório da Emigração.
Desde 2001 deixaram Portugal, em média, mais de 75 mil pessoas por ano. Entre 2010 e 2019 registou-se o maior êxodo.
O pico da emigração foi mesmo o ano de 2013, quando 120 mil portugueses saíram à procura de outra vida. O coordenador do Observatório da Emigração assume que esta debandada vai ter consequências.
"Algumas das carências que se formam no mercado de trabalho resultam desta incapacidade de substituir quem sai por quem entra e, sobretudo, substituir com as mesmas qualificações. Vão ter algum impacto sobretudo se não forem contrariados por um aumento da imigração", acrescentou.
