Após a notícia da saída de Centeno do Executivo de Costa, são já muitas a reações que se fazem sentir na cena política nacional.
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Começam a multiplicar-se as reações à saída de Mário Centeno do Governo. O primeiro partido político a prestar declarações sobre o assunto foi o PSD, que expressou a esperança de que, ao deixar o Ministério das Finanças, Centeno não seja premiado com o lugar de governador de Banco de Portugal.
Pela pessoa de Duarte Pacheco, o PSD relembrou que, há duas semanas, o líder social-democrata, Rui Rio, afirmou que Mário Centeno não tinha condições para continuar no Governo - após a polémica da injeção de capital no Novo Banco. Sentença que, diz o deputado, agora veio confirmar-se - estando, entretanto, o país a viver num clima de "teatro" e "hipocrisia" entre o primeiro-ministro e o ministro das Finanças.
"Esperemos que esta remodelação não seja agora premiada, à revelia do Parlamento, para outras funções no Estado, de forma a que a independência das instituições seja salvaguardada", afirmou o social-democrata, fazendo referência aos rumores de que Mário Centeno deixa o Executivo com o objetivo de ocupar o cargo de governador do Banco de Portugal.
"As instituições têm a sua dignidade e esta tem de estar acima dos jogos pessoais, que, infelizmente, neste processo, parecem estar bem evidentes", atirou Duarte Pacheco.
O PSD deixa bem claro que considera necessária a existência de um período de nojo entre funções governativas e a ocupação de cargos em entidades reguladoras, frisando que ninguém acredita que, nessa situação, estas instituições sejam geridas de forma independente. Por este motivo, Mário Centeno não contará com o apoio dos sociais-democratas, se procurar prosseguir para o Banco de Portugal.
Sobre a nomeação do até agora secretário de Estado do Orçamento, João Leão, para substituir Centeno nas Finanças, Duarte Pacheco diz não ter dúvidas de que este se trata de uma pessoa competente. Aproveita, contudo, para deixar mais uma farpa ao anterior ministro, expressando o desejo de que o seu sucessor seja "mais verdadeiro" e não mostre a "falta de seriedade" exibida por Mário Centeno.
O melhor ministro das Finanças, para o PS
Ana Catarina Mendes agradece a Mário Centeno, em nome do grupo parlamentar do PS."Mário Centeno foi melhor ministro das Finanças de sempre", considera a secretária-Geral adjunta do PS. "Mário Centeno mostrou na Europa que havia alternativa", diz a deputada do partido Socialista, lembrando o papel de Centeno como presidente do Eurogrupo.
"Esta saída é uma substituição dentro da equipa. O professor João Leão estava na equipa e por isso esta saída não nos enfraquece", acrescenta Ana Catarina Mendes.
Sobre o futuro do antigo governante, Ana Catarina Mendes diz que "em qualquer sítio onde o Mário Centeno estiver, a sua instituição será sempre prestigiada pela sua competência e a sua humanidade".
"A pior ocasião". CDS critica o momento escolhido para a saída
Para Francisco Rodrigues dos Santos (CDS) o Governo escolheu a "pior ocasião" para a saída do ministro das Finanças"É um péssimo timing esta remodelação", diz o líder centrista, explicando que o Mário Centeno que acaba de levar a discussão o orçamento retificativo "não será o mesmo [ministro] que o vai defender quando as medidas forem tomadas".
"Quando existe descoordenação do governo, essa descoordenação deve ser imputada ao primeiro-ministro", diz o líder do CDS.
"Não queremos que se trate de uma infeliz coincidência", sobre a saída de Mário Centeno do Governo a poucas semanas da escolha para o Banco de Portugal. "Não pode haver promiscuidade na política" "esta transferência de amigos de governantes para governadores".
O CDS defende uma mudança na forma de nomeação do governador do Banco de Portugal.
BE espera que continue aberta a porta às negociações com o Governo
A deputada do Bloco de Esquerda (BE) Mariana Mortágua espera que João Leão não feche a porta às negociações à esquerda.
"Queremos continuar as negociações que já tivemos", falando sobre a questão dos rendimentos para quem está em lay-off, ou outros trabalhadores sem rendimento devido à crise pandémica, mas também apoio à habitação.
"Não sou comentadora política, nem estou aqui para fazer considerações", diz Mariana Mortágua. "Enquanto há uma remodelação a decorrer", acrescenta, "há vários problemas por resolver no país".
Sobre uma possível nomeação de Mário Centeno para o Banco de Portugal "é uma situação demasiado complexa para ser reduzida a uma figura", diz Mariana Mortágua. "É uma instituição que está infiltrada de banqueiros, e esse tem sido o problema que até hoje da instituição que é suposto regular o sistema financeiro", adianta.
"A independência do Banco de Portugal é face a banqueiros, não face a quem é suposto defender o interesse público", diz a deputada do BE.
"O Banco de Portugal tem de ter mais escrutínio e não ter o estatuto de exceção que protegeu Carlos Costa, que passou pelo BCP e depois pela Caixa Geral de Depósitos, que nunca foi ministro mas era muito próximo e que continuou a ser muito leal ao Governo de Pedro Passos Coelho, governo que, depois, o compensou", considera Mariana Mortágua.
Momento escolhido para a troca é "lamentável", diz o PAN
"É lamentável que a saída se dê no dia em que o Parlamento debate as regras de nomeação para o banco de Portugal", diz André Silva, porta-voz do PAN. "O Governo deveria respeitar este debate e a vontade do Parlamento", lembra.
"Não é possível haver idoneidade em que o ministro das Finanças João Leão possa nomear o ex-ministro das Finanças Mário Centeno", considera André Silva, explicando que esta posição nada tem que ver com o papel político do antigo ministro das Finanças.
"O que aconteceu em Portugal nos últimos anos não é fruto do acaso, reconhecemos o papel de Mário Centeno", diz André Silva.
PCP espera para ver quais as opções políticas do novo ministro
Paula Santos, deputada do PCP, diz que os comunistas querem saber quais as opções do novo ministro antes de o avaliar. "O mais relevante são as questões políticas", diz a deputada, sobre a nomeação de João Leão para o lugar que era de Mário Centeno.
"Os Verdes" à espera de políticas que promovam "justiça fiscal
José Luís Ferreira do partido "Os Verdes" considera que "o mais importante não são as pessoas, são as políticas (...) Esperamos mais justiça fiscal", diz do deputado do partido "Os Verdes".
"Não é uma boa notícia" diz a Iniciativa Liberal
A saída de Mário Centeno do Ministério das Finanças é, para João Cotrim Figueiredo, "o segredo mais mal guardado da política portuguesa".
O deputado da Iniciativa Liberal considera que a troca na tutela das finanças "é uma má notícia", a continuidade na linha política anunciada pelo primeiro-ministro, António Costa.
"Vão mudar uma equipa a meio do jogo, e isso é preocupante", diz João Cotrim Figueiredo.
Quanto à possibilidade de nomeação de Mário Centeno para o Banco de Portugal, a Iniciativa Liberal considera que esta possibilidade revela "promiscuidade entre supervisor e supervisionado".
"Chega" surpreendido como o momento da remodelação
André Ventura critica a postura de Mário Centeno no momento da saída do Governo. "Ficará na história como o ministro que fugiu quando nós mais precisávamos dele e quando estava no momento de lutar pela maior crise financeira de que há memória na nossa história", diz o deputado do "Chega".
"Ficámos surpreendidos por saber que Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado que estava esta manhã a discutir um projeto connosco, tenha saído", acrescenta.
O deputado do "Chega" critica ainda a possibilidade de escolha de Mário Centeno para o Bando de Portugal. "Não deixa de ser curioso que esta saída aconteça minutos antes da saída de um novo normativo", sobre as nomeações para o Banco de Portugal. "Vamos ter um ministro a sair diretamente da supervisão de uma entidade para a entidade", diz André Ventura