Sindicato recebeu várias denúncias que serão encaminhadas para as entidades competentes, nomeadamente o ministro da Saúde.
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O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) denunciou esta quinta-feira diversos casos de atrasos no envio de meios do INEM ocorridos na quarta-feira, alguns com demoras superiores a duas horas e uma das quais resultou em óbito.
Em comunicado, o STEPH aponta um caso de uma ocorrência em Faro, que envolvia uma tentativa de suicídio e para a qual o Instituto Nacional de Emergência Médica "não conseguiu encontrar uma ambulância disponível para enviar para o local" com a prontidão necessária.
"Para um caso com este grau de prioridade, efetivo risco de vida, apenas foi enviada para o local uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação passadas uma hora e quarenta e cinco minutos da chamada inicial", refere o sindicato, indicando que o óbito acabou por ser declarado no local.
Questionado pela TSF sobre quais os principais problemas, o presidente do STEPH, Rui Lázaro, reforça que o grande desfalque está "essencialmente nos técnicos de emergência para hospital".
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"A taxa de abandono é elevadíssima. Só este mês de abril despediram-se mais de 40 técnicos. Na região do Algarve saíram mais de dez técnicos só este mês, sem que o INEM consiga retê-los, muito pela forma como trata e como desrespeita os seus direitos laborais", explica.
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"Das denúncias que recebemos ontem, e que já tivemos oportunidade de confirmar, aconteceram no Algarve e na região da grande Lisboa, nomeadamente na Margem Sul. Infelizmente, há uma vítima mortal, que lamentamos profundamente", esclarece o presidente do STEPH.
Rui Lázaro diz ainda que encaminhará as denúncias para as autoridades competentes, incluindo o ministro da Saúde.
O STEPH lembra que estes casos ocorreram no dia em que foi ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, onde entre outras matérias falou da falta de meios, manifestando preocupação com o facto de em abril haver já um elevado número de ambulâncias paradas por falta de profissionais, situação que diz normalmente acontecer apenas no período do verão.
Na nota desta quinta-feira, o sindicato diz que os casos que lhe foram reportados na quarta-feira são de "elevadíssima gravidade" e aponta a "ineficiência de um serviço que o INEM devia garantir aos cidadãos", falando mesmo em "eventual negligência grave na assistência de emergência médica".
Entre as denúncias recebidas está um caso em Olhão, onde uma mulher de 60 anos, com suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC), esperou mais de duas horas e meia pelo envio de uma ambulância.
Outro homem de 74 anos, em Tavira, com suspeita de AVC, esperou 52 minutos para que fosse encontrada uma ambulância disponível para o socorrer.
Entre as denúncias recebidas, todas referentes ao dia de quarta-feira, estão igualmente os casos de um homem de 63 anos, do Seixal, com queixas de falta de ar e que esperou 54 minutos pelo envio de uma ambulância e de uma outra, de 60 anos, com suspeita de hipoglicemia, que esperou em Olhão mais de uma hora para que fosse encontrada uma ambulância disponível para ser enviada e posteriormente a socorrer.
"Infelizmente a preocupação que manifestamos aos deputados do elevado número de ambulâncias encerradas, bem como das suas consequências, num período tão precoce do ano civil, materializou-se num trágico desfecho, o que lamentamos profundamente", refere a nota divulgada pelo STEPH.
Na audição de quarta-feira, o presidente do sindicato disse haver este mês "um elevado número de ambulâncias fechadas por falta de técnicos", acrescentando que, mesmo sem a greve às horas extraordinárias (que começou esta semana), a previsão para abril era de "muitas [ambulâncias] com mais de 50% de horários por preencher".
Segundo explicou Rui Lázaro à TSF, no ano passado esta situação verificou-se apenas por altura do verão (junho, julho, agosto e setembro), acrescentando: "Se em abril o cenário é este, daqui a dois ou três meses vamos estar muito pior".
"Os níveis de alerta têm que ficar no máximo e têm que ser tomadas medidas urgentes de forma a mitigar estes constrangimentos, sendo que não vai ser possível resolvê-los na totalidade, mas, no mínimo, mitigá-los", defende.