Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica queixam-se de dificuldades no acesso à greve
O Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde acusa alguns médicos de mudarem o estatuto de determinadas cirurgias, alterando-as de rotina para urgentes.
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Os Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica não conseguem cumprir as greves quando as marcam. Em causa está o facto de, alguns médicos, nos dias em que estão agendadas paralisações, alterarem o estatuto de determinadas cirurgias de rotina para urgentes, o que, na prática, faz com que essas intervenções tenham de ser realizadas, ou seja, muitas das vezes, o trabalho nestes dias acaba por ser o mesmo que num dia normal, mas com menos profissionais, que são obrigados a fazer o trabalho de três ou quatro colegas.
Luís Dupont, presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde, explica que "aquilo que se passa muitas vezes, nomeadamente nos serviços de urgência, em áreas como a área laboratorial ou da imagiologia, que têm de estar garantidas, 24 horas por dia, 7 dias da semana, é que muitas vezes, aquilo que normalmente não era designado como, por exemplo, um pedido urgente, nos dias de greve, os serviços clínicos reclassificam um pedido de um meio complementar de diagnóstico e terapêutica como algo urgente, para não colocarem em causa uma cirurgia programada. Isso dificulta o exercício do direito à greve porque aquilo que nós temos de salvaguardar quando fazemos o exercício da greve são os serviços mínimos, e os serviços mínimos são os serviços de urgência, são garantir o doente oncológico, garantir a nutrição parentérica, e aquilo que temos salvaguardado no próprio contrato coletivo".
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O presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde reconhece que esta dificuldade "não acontece em todas as instituições, nem de igual forma". No entanto, há pressão sobre os técnicos superiores de saúde.
"Quando o técnico questiona que aquilo não é uma situação urgente, há uma tentativa de dizer que aquilo está classificado como urgente. Portanto, se não o fizer, a responsabilidade é sua. Isto é efetivamente uma pressão que é feita sobre o trabalhador, que sabe muitas vezes que aquilo não é uma situação urgente, que está reclassificada, e volto a reafirmar, reclassificada como urgente, intencionalmente, e portanto, o trabalhador, ao sofrer esta pressão, acaba por fazer o exame", alerta Luís Dupont.
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde, estas situações têm de ser resolvidas internamente.
"Nós, no sindicato, alertamos para estas situações. Escrevemos, até no decorrer da greve, que aconteceram estas situações, relatamos estas situações às instituições, e tem de haver também aqui, por parte das instituições, claramente, indicações aos serviços clínicos, de que não podem fazer isto. Porque isto é uma violação do direito à greve. Existem outras carreiras profissionais, outros trabalhadores, que exercem o seu direito à greve. Eu costumo dizer, para um bloco operatório de rotina funcionar, basta faltar uma pessoa da equipa multidisciplinar, e o bloco operatório já não funciona, já não se faz a cirurgia. Seja um anestesista, seja um assistente operacional, seja um enfermeiro, seja um cirurgião, basta faltar uma destas pessoas, já não se faz a cirurgia. Quando estamos a falar dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, tenta-se sempre contornar o direito à greve destes trabalhadores", remata Luís Dupont.