Têm estadia grátis e são cinco estrelas para o planeta. Há cada vez mais hotéis para insetos
São autênticos hotéis para quem procura abrigo de várias ameaças. Alojam insetos essenciais à vida, que têm pago a fatura da estadia no planeta com a própria vida. Para imitar os habitats destruídos nas últimas décadas, têm sido vários os hotéis a serem construídos e até é fácil ser dono de um
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A Escola Básica dos Coruchéus, no bairro lisboeta de Alvalade, bem podia começar por chamar-se Complexo Hoteleiro, já que desde o ano passado tem apostado fortemente neste setor, no âmbito do projeto Eco-Escolas.
"[Estes hotéis] foram construídos pelas crianças, com materiais recolhidos pelas famílias: pinhas, rolhas, canas cortadas, pauzinhos, as partes interiores dos rolos de papel higiénico encaixadas umas nas outras", conta à TSF a professora Ana Albergaria.
Foi com alguns destes materiais que o pequeno Benjamin, aluno nesta escola, pôs mãos à obra e, com a ajuda do avô, ergueu um dos três hotéis colocados no pátio: "[O hotel] tem madeira e uma chapa de metal. (...) É para os bichos."
São abelhas, borboletas, ou joaninhas, que encontraram abrigo nesta pequena caixa de madeira, pendurada numa árvore e cheia de canas. Cada uma serve de quarto a insetos polinizadores.
"É um tipo de inseto que transporta pólen de uma flor para outra. O pólen permite a polinização, ou seja, a união dos órgãos masculino e feminino da planta. A partir disso gera-se sementes, que dão origem a novas plantas. Ao assegurarem a reprodução das plantas também permitem o equilíbrio dos ecossistemas e o funcionamento de todas as dinâmicas de animais que se alimentam dessas plantas", explica Margarida Monteiro, bióloga da Quercus, a Associação Nacional de Conservação da Natureza.
Este é um processo que está em perigo, uma vez que há cada vez menos insetos polinizadores. Os ambientes em que vivem, como florestas, têm sido destruídos pelo ser humano em todo o mundo e é aqui que entram os hotéis, que imitam, dentro do possível, esses ambientes.
"Os hotéis de insetos contribuem para aumentar a biodiversidade e são um grande recurso pedagógico porque aproximam os alunos dos insetos", acrescenta a especialista.
É um resultado que está à vista nesta escola, como conta a professora Ana Albergaria: "As crianças estão muito atentas, muito despertas e muito envolvidas na procura de soluções e sabem que os hotéis de insetos são uma pequena solução em problemas grandes."
Foi também com este objetivo que a Câmara Municipal de Lisboa lançou um projeto para as escolas construírem hotéis. "Assim que falamos em abelhas, as crianças dizem logo: 'Ui, Isso pica'. Portanto, temos que desmistificar [esta ideia], porque a maioria das pessoas não lhes passa pela cabeça por que é que os insetos são importantes", afirma Margarida Fonseca, técnica superior da Direção Municipal do Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia da autarquia lisboeta.
E é possível ter um hotel destes num quintal ou na varanda: "Não é nada complicado. Basta uma pequena cana de bambu, que esteja próximo da fonte de alimento, as flores. Os hotéis têm é de estar virados a sudeste, elevados entre 30 centímetros a um metro do solo. Têm de ser construídos com materiais naturais e não podemos colocar vernizes", explica.
Depois de construído, o hotel requer manutenção. Caso contrário, os insetos polinizadores podem abandonar este lar e atrair outros insetos "menos desejáveis".
Com base num documento do Pavilhão do Conhecimento - Centro Ciência Viva, a Quercus disponibiliza online um manual de como erguer um hotel, que pode ver aqui.