Roque da Cunha defende que o Governo deve admitir que não tem condições para cumprir com o pagamento de prémios aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde. À TSF, o líder sindical critica também o otimismo do Governo em relação ao plano de vacinação contra a Covid-19.
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Responsabilidade em vez de propaganda. É este o pedido que o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, faz ao Governo em relação ao plano de vacinação contra a Covid-19. O dirigente sublinha o que aconteceu com a vacina da gripe e, por isso mesmo, alerta para a falta de capacidade dos centros de saúde para colocar em prática a vacinação dos portugueses.
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Em declarações à TSF, Roque da Cunha sublinha que "numa situação em que nem sequer disponibilizaram vacinas da gripe" e quando os centros de saúde "estão sob uma pressão imensa" e a precisar de acompanhar os doentes, "estamos a ser muito otimistas" ao afirmar que é possível vacinar "três, quatro ou nove milhões de pessoas".
"Estou farto que este Governo seja não só otimista, mas esteja irresponsavelmente a pensar na questão da propaganda", critica o dirigente do SIM, que se revela também contra a opção do executivo de tirar "três mil médicos dos cuidados de saúde primários para fazer telefonemas e estar nas áreas dedicadas à Covid-19".
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O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos teme mesmo que, em comparação com as estratégias dos outros países, Portugal não esteja preparado.
"Sabemos que outros países com muito maiores meios e capacidades de organização já estão a fazer centros de vacinação e a colocar as Forças Armadas na logística", assinala. "Temo este desenrascanço nacional, não vai ser bom sinal para a vacinação."
O decreto-lei do Governo sobre as compensações para profissionais de Saúde também é alvo das críticas do SIM por entender que há discriminações e que os critérios são restritivos e abrangem apenas dez mil trabalhadores de um universo de 130 mil, algo que tem criado revolta no setor.
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O Governo "não só contraria o que o SIM entendia que era a interpretação de a todos os profissionais" como aplicou critérios "altamente restritivos e na prática cumulativos", algo que se traduz em ter "numa mão coisa nenhuma e noutra nada".
Roque da Cunha entende que, em vez de "propagandear este prémio", o Governo deveria "por a mão na consciência" e assumir que não tem condições "para cumprir o que o Parlamento ordenou".
O Parlamento decidiu, por unanimidade, dar uma compensação aos profissionais de saúde em dias de férias e compensação de salários durante o estado de emergência. O prémio, explica Roque da Cunha, "só contempla pessoas que estiveram continuamente nos Cuidados Intensivos, sete dias seguidos ou 30 dias em 45", algo que diz ser "uma coisa impossível", devido à necessidade de descansar e folgar.
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Assim, de 130 mil profissionais do SNS, o número de contemplados "não ultrapassaria os 10 mil", excluindo cerca de 120 mil, algo que "só vai aumentar confusão e desmotivação dos profissionais".
No final de contas, diz Roque da Cunha, esta é uma situação de "desconsideração perante os profissionais de saúde".
"É mais uma atitude que registamos, mas os portugueses podem contar connosco", garante.