"Temos de ter mais polícias na rua." Ataques a imigrantes no Porto "refletem insegurança"
O coordenador do Observatório de Seguranca Interna fala em "zonas urbanas sensíveis" onde há "ausência de policiamento". O presidente da associação de comerciantes do Porto também considera que "há uma sensação de insegurança na cidade".
Corpo do artigo
O coordenador do Observatório de Seguranca Interna diz que há falta de policiamento nas ruas para evitar que ocorram casos como o que aconteceu no Porto, na sexta-feira. À TSF, Hugo Costeira considera que estes incidentes mostram o clima de insegurança que se vive em algumas zonas da cidade.
"Isto reflete a insegurança que nós temos nas ruas. Portugal não é um país inseguro, mas nós temos focos nas cidades de zonas, que começam a ser zonas onde ocorrem assaltos, ocorrem atividades criminosas e isto revela também que nestas zonas urbanas 'sensíveis' há uma ausência de policiamento e a inexistência deste policiamento de proximidade demonstra primeiro que, por exemplo, a direção nacional da polícia está um bocado ausente da realidade e que esta desorganização policial permite que, em determinados locais, determinado tipo de criminalidade aconteça", explica.
Hugo Costeira defende que é indispensável aumentar o número de "patrulheiros". "Temos de ter muitos mais polícias na rua e também, se calhar, começarmos a pensar a sério que não é por haver esquadras que as pessoas estão mais seguras, porque as esquadras retiram o efetivo da rua, e mais videovigilância. Portanto, há aqui todo um conjunto de questões que deve ser respondido e que nos preocupa obviamente. Achamos que o Ministério da Administração Interna tem de perceber junto dos seus comandos onde é que isto está a acontecer e porque é que isto está a acontecer", sublinha, considerando que "em termos de organização policial ou de reorganização do dispositivo policial precisamos de abordagens mais século XXI".
"Tem sido crescente a sensação de insegurança"
Também ouvido pela TSF, Holden Carvalho, presidente da associação de comerciantes do Porto, afirma que se nota um aumento no número de assaltos aos comerciantes.
"Tem sido crescente a sensação de insegurança que existe na cidade e, sobretudo, relacionado com o fator do comércio. Os assaltos têm vindo a proliferar no centro da cidade e urge dizer que é preciso sensibilizar os empresários e comerciantes, porque a estatística revela que os números de criminalidade que existem relacionados a crimes violentos têm aumentado. Contudo, os outros têm diminuído. No nosso entender, existe uma descredibilização por parte da justiça que leva a que muitas das coisas que acontecem não sejam reportadas", diz.
Holden Carvalho apela aos comerciantes que apresentem queixa quando são alvo de furtos e pede mais policiamento de proximidade.
"É óbvio que podemos aumentar os efetivos e era necessário que quando são produzidos esses crimes, nem que seja um pequeno furto, nós também apresentemos queixa", adianta, lembrando que "não está identificado que sejam os imigrantes que estejam a fazer este tipo de crime".
"O que existe é uma sensação de insegurança e talvez um medo de perda de identidade da própria cidade devido ao número crescente de pessoas que não são de nacionalidade portuguesa, mas não está relacionado com isso. Tanto quanto eu saiba, não são crimes perpetuados por indivíduos, sejam argelinos, sejam do Bangladesh, sejam de outros países", acrescenta.
Na madrugada de sexta-feira, a PSP foi alertada cerca da 01h00 para uma agressão no Campo 24 de agosto, no Porto, contra dois imigrantes por um grupo de quatro ou cinco homens que fugiu antes da chegada dos agentes, especificou o porta-voz da polícia, indicando que os dois agredidos foram assistidos no Hospital São João.
Cerca de 10 minutos mais tarde, na Rua do Bonfim, 10 imigrantes foram atacados, na habitação onde estavam, por um grupo de 10 homens, munidos com paus e, alegadamente, com uma arma de fogo, o que a PSP ainda não conseguiu confirmar, referiu a mesma fonte.
Ainda segundo o porta-voz, pelas 03h00, na Rua Fernandes Tomás, outro imigrante foi também agredido, por outros suspeitos, sendo que um deles usava uma arma de fogo.
Na sequência destas agressões, seis homens foram identificados e um foi detido por posse de arma ilegal, tendo sido presente a tribunal e ficado em prisão preventiva.
Dada a suspeita de existência de crimes de ódio, o assunto está a ser investigado pela Polícia Judiciária.