A capacidade do país ronda os mil e cem ventiladores. O Governo promete duplicá-la em breve, mas os especialistas em medicina intensiva são só 260.
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Aos poucos, hoje dez, amanhã cem, na semana que vem quinhentos. O Governo tem vindo a anunciar que em breve estaremos com o dobro dos ventiladores, qualquer coisa à volta dos 2300. O problema é que temos menos de 300 médicos intensivistas para usar estes equipamentos.
"É verdade que o número de especialistas em cuidados intensivos pode não ser suficiente para a quantidade de ventiladores que estão a chegar", admite João Gouveia.
O médico que coordena a resposta hospitalar aos doentes mais críticos durante a pandemia acrescenta, no entanto, que, se for preciso, serão outros médicos, de outras especialidades a operar os equipamentos de ventilação. "Está previsto dar-lhes formação e permitir assim que prestem cuidados adequados a estes doentes, sempre sob supervisão de um intensivista".
Medicina de catástrofe é assim
É por agora um plano, mas não parece mal a outro internista e intensivista ouvido pela TSF.
António Maia Gonçalves reconhece que nos tempos que vivemos é preciso improvisar, mas nota que "neste caso concreto nem sequer é preciso improvisar muito. Há outras especialidades, como a medicina interna, em que os médicos aprenderam a usar equipamentos de suporte de vida, podem é estar destreinados, mas isso resolve-se com supervisão".
Não é o ideal mas cumpre o essencial, "que é salvar vidas".
Um dia numa cama de cuidados intensivos custa 2 mil euros
O preço é uma das explicações. "Um doente internado numa unidade de cuidados intensivos custa cerca de 2 mil euros por dia, enquanto numa cama de enfermaria custa 200", justifica António Maia Gonçalves.
Os países ricos tendem por isso a ter maiores percentagens de camas para cuidados intensivos que os mais pobres e neste caso somos, de facto, pobres.
Olhando para todas as camas de internamento do país, só cerca de dois por cento estão destinadas aos doentes mais agudos. É pouco? "É", reconhece este especialista, "numa situação normal deveríamos ter o dobro, mas temos de ser criteriosos a gerir os recursos e não podemos dizer que a especialidade tem sido maltratada".
"Usar máscara até é um sinal de respeito pelos outros"
António Maia Gonçalves está "relativamente" otimista quanto ao rumo que a epidemia está a tomar no nosso país. "Se não houver mudança brusca de políticas, acho que podemos ir saindo disto aos poucos", há a questão económica e a sanidade mental que também têm limites.
"Ao fim de cinco ou seis semanas de isolamento as pessoas começam de facto a ter problemas", o processo pode ser lento, mas o uso de máscaras mais generalizado poderia ser útil, defende. "Sabemos que o uso de máscaras não nos protege a nós, mas protege os outros. Se usarmos máscara cada vez que vamos ao supermercado, por exemplo estamos a proteger os outros. É quase uma questão de respeito pelo próximo".
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