"Temos mesmo de perceber que o parto e a gravidez são momentos irrepetíveis." Associação pede ao Governo “abolição imediata” da Linha SNS Grávida
A Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto lamenta que "mulheres estejam a parir nas ruas por falta de resposta do sistema público de saúde" e defende que, muito mais que uma triagem telefónica, é preciso que "as pessoas não tenham as portas das urgências fechadas"
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A Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP) pediu esta quarta-feira ao Governo a “abolição imediata” da Linha SNS Grávida, alegando que tem criado barreiras ao acesso imediato e seguro aos cuidados de saúde materna.
Numa carta enviada ao Governo, deputados e entidades com competência em matéria de saúde, igualdade e direitos fundamentais, a associação aponta o caso de uma mulher que entrou em trabalho de parto e teve a filha numa rua do Carregado, no concelho de Alenquer.
“Desde a criação da linha que temos vindo a alertar para o facto de isto não resolver os problemas que se atravessam, atualmente, na obstetrícia em Portugal. Parece-nos que a linha já teve tempo suficiente para mostrar que não está a funcionar, como só está a contribuir para a degradação dos serviços”, sublinhou a dirigente da APDMGP, Sara do Vale, em declarações à TSF.
“Muitos dos casos que chegam à associação mostram que as mulheres estão a perder acessos a cuidados de saúde. Há muitas urgências que já nem fazem triagem das senhoras, se não tiverem ligado para a linha SNS Grávida. Isto está a aumentar os níveis de ansiedade, há casos que deviam ter sido diagnosticados mais cedo”, prosseguiu.
Parece-nos que está na altura de dizer basta e repensar a forma como podemos repensar as urgências.
Para a APDMGP, “é inaceitável que, em pleno século XXI, mulheres estejam a parir nas ruas por falta de resposta do sistema público de saúde”. Sara do Vale desconhece os detalhes do parto que aconteceu nas ruas do Carregado, mas não tem dúvidas de que este “é mais um exemplo de um atraso desnecessário”.
"É preciso colocarmo-nos no lugar de uma grávida com contrações, a ligar para a linha, em espera, depois é encaminhada para outro... temos mesmo de perceber que o parto e a gravidez são momentos irrepetíveis", considerou.
A dirigente insistiu ainda que a linha “não está a tornar as coisas mais simples”, nem é a "galinha dos ovos de ouro", como defende o presidente da comissão de reorganização das urgências, Alberto Caldas Afonso. Para que a triagem telefónica seja uma realidade é preciso que “as pessoas não tenham as portas das urgências fechadas”, concluiu.
