"Tenho fé que não vai acontecer." Quinta das Cunhas esperançada que desvio do TGV poupe povoação
A Quinta das Cunhas corre o risco de desaparecer caso se mantenha o traçado que recebeu, este mês, parecer favorável condicionado da APA.
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A Quinta das Cunhas é uma povoação em Coimbra que pode desaparecer caso se mantenha o trajeto de alta velocidade com parecer positivo da APA no troço entre Oiã e Soure. O município conta 62 casas afetadas pelo projeto e a autarquia já tem já em funcionamento um gabinete de apoio.
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Foi em junho que Manuel Vaz soube da possibilidade do traçado da alta velocidade atravessar a Quinta das Cunhas, na freguesia do Ameal. O primeiro mês, conta, foi "complicado".
"Não dormia. Estava mesmo completamente descontrolado porque o que sabíamos era que não havia alternativa nenhuma", recorda Manuel Vaz que sempre viveu na povoação.
A tranquilidade chegou com informação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) de "que havia uma forte possibilidade do traçado ser desviado", poupando a povoação que surge como uma ilha no meio da floresta. "Hoje estamos a contar com essa promessa", confessa.
Com casa renovada há três anos, Manuel Vaz recusa o pior cenário. "Já tenho 63 anos, para o ano 64. Acho que já era uma coisa muito forte para mim estar a mudar tudo novamente. Acho que não. Tenho fé que não vai acontecer".
A Quinta das Cunhas corre o risco de desaparecer caso se mantenha o traçado que recebeu, este mês, parecer favorável condicionado da APA no troço Oiã-Soure.
A Declaração de Impacte Ambiental sujeita o projeto à adoção da alternativa 2 no trecho Sul e a alternativa 1 no trecho Centro, onde, além da linha principal da alta velocidade, será ampliada a linha do norte entre Taveiro e Coimbra. No trecho Norte é defendida a alternativa 1.
Embora a alternativa escolhida atravesse a Quinta das Cunhas, o presidente da União de Freguesias de Taveiro, Ameal e Arzila, Jorge Mendes, tem "esperança" de que o projeto final tenha em consideração a povoação e o traçado desviado.
"Aquilo que me foi explicado é que o que estava em apreciação pela APA eram os corredores. E com um corredor de 400 metros, aquela linha pode não ser exatamente onde estava desenhada. Pode-se chegar para um lado 100 metros ou para o outro. É essa a nossa expectativa".
Nas freguesias vizinhas de S. Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, o presidente fala em 63 casas afetadas, incluindo casos como o de uma habitação que terá um muro encostado a uma janela. "Para mim essa também é uma habitação que é atingida. Não é uma habitação que passa incólume, mas passa com um muro de betão de 5 metros de altura encostado à janela".
"A própria carta onde está projetada a passagem da linha principal do TGV é uma carta que é só de 2009, uma carta com 14 anos, em que há edificações que não estão lá implantadas. Para dar um exemplo de como as coisas são feitas em cima do joelho, basta dizer que a própria portagem [da A1] para norte e a rotunda de acesso a essa portagem nem sequer está implementada na carta", acrescenta Jorge Veloso.
Sobre possíveis alterações ao traçado, Jorge Veloso confessa ter "alguma esperança, mas cada vez menos". "Não desistimos já de lutar, vamos continuar a lutar. Temos um protocolo com a GEOTA para também no âmbito ambiental conseguir ter alguma ajuda".
Para breve, Jorge Veloso prevê apresentar novas propostas: "temos todos que ir ver as condicionantes e ver o que é que se pode fazer no meio das condicionantes porque não estão bem descritas no papel".
Para ajudar as famílias afetadas pela passagem da linha de alta velocidade, a Câmara Municipal de Coimbra já tem em funcionamento um gabinete interno de apoio. Ana Bastos, vereadora com o pelouro dos transportes e mobilidade, explica que, com uma equipa pluridisciplinar, pretendem "apoiar diretamente a população nos seus direitos e garantias", não esquecendo a componente social.
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"Vamos ter que passar por um procedimento de expropriações que não será fácil, porque não envolve só questões patrimoniais e económicas, mas envolve muitas das vezes questões mais de índole social, sentimental. São pessoas que ali viveram uma vida inteira, que ali nasceram e querem ali continuar. Esta componente social, e muito pessoal, é difícil e muito sensível de gerir".
O gabinete funciona com pré-marcação através de e-mail (apoio.altavelocidade@cm-coimbra.pt) ou por telefone (939016071).
O troço entre Oiã e Soure da futura linha de alta velocidade deverá implicar um investimento de 1,3 mil milhões de euros. A estimativa é que avance já no final do próximo ano, com obra prevista para 2026.