"Terror ainda anda por cá." Bonfim tenta voltar à normalidade entre “medo” e reforço de policiamento
Episódios de violência criaram “receio” em algumas pessoas, mas “visibilidade muito mais presente das forças policiais” tranquilizam outras
Corpo do artigo
A freguesia do Bonfim, no Porto, procura regressar à acalmia, depois das agressões a imigrantes e dos assaltos que se registaram no Campo 24 de Agosto há um mês. Há quem já sinta o ar mais leve, mas há também quem ainda tenha medo de frequentar a zona. Notório para todos é o reforço do policiamento no local onde confluem muitas nacionalidades.
O edifício da Junta de Freguesia do Bonfim fica a dois passos da zona onde, numa só noite, ocorreram três ataques a imigrantes. Num deles entraram mesmo na casa onde moravam.
Só no Campo 24 de Agosto, há “um supermercado turco, um cabeleireiro africano, um restaurante brasileiro e um florista iraniano”, sublinha o presidente da junta, João Aguiar. “São cidadãos que sempre coabitaram em perfeita harmonia com toda a população, fazem parte da nossa cidade, são nossos cidadãos”, afirma.
Depois de terem sido atacados dentro da própria habitação, os imigrantes têm sido ajudados pela Junta de Freguesia. João Aguiar conta que recebem "apoio psicológico, muitos deles estão em risco de despejo, outros estão a trabalhar e há uma das vítimas que está bastante imobilizada, porque teve de sofrer várias intervenções cirúrgicas e precisou de receber uma cadeira de rodas".
São poucos os imigrantes que querem falar. Kadier Yesserd é excepção. Ainda que com dificuldade em expressar-se em português ou inglês, o argelino, que está em Portugal há seis meses, diz que não se sente totalmente seguro.
"Fui assaltado, roubaram-me o passaporte", conta. Kadier trabalhou na construção civil e depois quis arrendar uma casa, mas não conseguiu. "Mandaram-me uma mensagem racista. Dizia que não queriam árabes... Mas porquê?"
A crescente violência na zona do Campo 24 de Agosto obrigou ao reforço do policiamento. Agora, para o presidente da Junta, "as pessoas já estão com outra tranquilidade, até porque há uma visibilidade muito mais presente das forças de policiais, que todos os dias têm estado no terreno".
Uma tranquilidade que é partilhada por Igor Barreto. O dono do restaurante brasileiro diz existir "mais segurança com o policiamento".
Ainda assim, para alguns, os receios continuam. Do outro lado do Campo 24 de Agosto, Anabela Matos trabalha há 39 anos no oculista junto à entrada da estação de metro. Apesar do policiamento visível, a tranquilidade não é a mesma.
"As pessoas ficaram um bocadinho alarmadas com as notícias na televisão, porque se nota uma quebra de pessoas a passar aqui pelo Campo 24 de Agosto", observa a comerciante, lamentando: "Houve até pessoas que telefonaram a dizer que tinham receio de vir para estes lados, com receio de serem assaltadas."
Atravessamos a rua e Gil Reis, gerente de uma pastelaria, lamenta o mesmo. "Tenho muitos clientes idosos que por medo não vêm, têm medo", diz em tom de remate. "O policiamento aumentou, mas o terror ainda anda por cá."
Por parte do presidente da Junta há a garantia de que vai continuar a exigir mais policiamento no Bonfim.
