À posse de Tolentino Mendonça estão a assistir dezenas de portugueses e, em representação do Governo, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunen, assim como o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque.
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O arquivista e bibliotecário do Vaticano recebeu o anel e barrete cardinalícios, assim como a bula, numa cerimónia na Basílica de São Pedro, que começou às 16h00 locais (menos uma hora em Lisboa). Este foi o sexto consistório para a criação de cardeais de Francisco, cujo pontificado começou em março de 2013, depois da resignação do papa Bento XVI, no mês anterior.
Natural de Machico, Madeira, o futuro cardeal, poeta e estudioso da Bíblia, entrou no seminário aos 11 anos. Doutorado em Teologia Bíblica e antigo vice-reitor da UCP, é um nome de destaque da poesia portuguesa contemporânea, tendo já recebido vários prémios.
Tolentino Mendonça, de 53 anos, foi um dos 13 novos cardeais anunciados pelo papa Francisco a 1 de setembro.
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À cerimónia de investidura estão a assistir dezenas de portugueses, incluindo a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, em representação do Governo português, e o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cancelou a deslocação a Roma devido à morte do fundador do CDS Freitas do Amaral, cujo funeral se realizou este sábado, dia de luto nacional.
Juntamente com Tolentino Mendonça são também investidos um total de 13 cardeais, três não eleitores.
Com a entrada do arquivista para o colégio cardinalício, passam a ser cinco os cardeais portugueses que fazem parte do mais importante órgão da Igreja Católica.
Tolentino Mendonça vai fazer parte do grupo de cardeais que vai eleger o próximo papa.
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Segundo o guião da cerimónia disponibilizado pelo Vaticano, Tolentino Mendonça, que é o responsável pelo Arquivo Secreto e Biblioteca Apostólica do Vaticano, será o segundo de uma lista de dez cardeais eleitores a ser criado cardeal e passará a usar as habituais vestes, cuja cor vermelha distingue os cardeais.
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Na lista estão Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, Itália, da Comunidade de Sant'Egídio, um dos quatro mediadores do acordo de paz de 1992 em Moçambique, e Jean-Claude Höllerich, arcebispo do Luxemburgo, onde residem 95 mil portugueses, que são 15% da população do país.
Um dos cardeais não eleitores, por ter ultrapassado os 80 anos, é Eugenio Dal Corso, arcebispo emérito de Benguela, Angola.
Antes de entregar o barrete cardinalício e o anel, o papa criticou o "hábito da indiferença" e pediu aos novos cardeais compaixão, que definiu como "requisito essencial".
"A disponibilidade de um purpurado para dar o seu próprio sangue - significado na cor vermelha das suas vestes - é certa, quando está enraizada nesta consciência de ter recebido compaixão e na capacidade de ter compaixão. Caso contrário, não se pode ser leal", afirmou Francisco.
O líder da Igreja Católica disse ainda que "muitos comportamentos desleais de homens da Igreja dependem da falta deste sentimento da compaixão recebida e do hábito de passar ao largo, do hábito da indiferença".
Tolentino Mendonça junta-se ao cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e ao bispo da Diocese de Leiria-Fátima, António Marto, como cardeais eleitores - e também podem ser eleitos - num futuro conclave para escolher o sucessor de Francisco, de 82 anos.
No colégio cardinalício, que tem por missão apoiar o papa, estão mais dois portugueses que, por terem mais de 80 anos, não participam no conclave: Monteiro de Castro, de 81 anos, que foi penitenciário-mor da Santa Sé e teve uma vasta experiência diplomática ao serviço do Vaticano.
Já Saraiva Martins, de 87 anos, foi secretário da Congregação para a Educação Católica e depois prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Foi criado cardeal por João Paulo II (1920-2005), no mesmo dia do ex-cardeal-patriarca de Lisboa José Policarpo (1936-2014).
Portugal teve um papa, João XXI, cujo pontificado começou em setembro de 1276 e terminou em maio de 1277. Morreu na sequência de um acidente na Catedral de Viterbo, Itália, cujas obras acompanhava. Está aí sepultado. Natural de Lisboa, Pedro Julião ou Pedro Hispano era designado no seu tempo como filósofo, teólogo, cientista e médico.
Marcelo envia "cumprimento caloroso e amigo" ao novo cardeal
O Presidente da República enviou hoje um "cumprimento caloroso e amigo" a José Tolentino de Mendonça, que hoje foi criado cardeal pelo Papa Francisco.
"Gostaria de estar presente no consistório em que recebe os sinais da sua nova condição, mas na impossibilidade de o fazer, envio ao novo Cardeal um cumprimento caloroso e amigo e os desejos de que continue a ser uma referência para tantos, católicos ou não, que lhe reconhecem o valor cultural e humano de quem é, como o próprio se definiu, "um facilitador de encontros", escreve Marcelo Rebelo de Sousa numa mensagem publicada no sítio da Presidência da República.
O chefe de Estado cancelou a sua ida a Roma, no sábado, para a elevação de Tolentino Mendonça a cardeal, para estar presente nas cerimónias fúnebres do fundador do CDS e antigo ministro Freitas do Amaral.
O Presidente da República considera que José Tolentino de Mendonça - convidado para ser o Presidente das comemorações do próximo Dia de Portugal -, é um exemplo de alguém que procura ir mais longe e, ao mesmo tempo, estar com todos.
"Por isso o programa que define para si próprio - "Sentir a cada dia o apelo a ir mais longe, a baixar mais as defesas, a estar menos nos nossos obstáculos, na autorreferencialidade que muitas vezes nos enclaustra, e deixar-se ir atrás" daquilo em que acredita -- pode ser também um caminho para cada um e para todos nós como comunidade", frisou.
Marcelo Rebelo de Sousa relembra o que escreveu no dia em que foi conhecida a escolha de José Tolentino Mendonça para Cardeal, indicando que "essa honra traduz o reconhecimento de uma personalidade ímpar, assim como da presença da Igreja Católica na nossa sociedade, o que muito prestigia Portugal".