Tosse convulsa. Pode haver "falhas na vacinação das grávidas", mas casos "são pontuais"
Um relatório do Centro Europeu de Controlo de Doenças dá conta de uma explosão de casos em toda a União Europeia
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No espaço de quatro meses Portugal registou dez vezes mais casos de tosse convulsa. Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), desde o início do ano e até 3 de maio foram notificados 200 casos de infeção, enquanto ao longo de todo o ano passado foram registados 22 casos.
Um relatório do Centro Europeu de Controlo de Doenças dá conta de uma explosão de casos em toda a União Europeia e indica que as infeções com a bactéria que causa a doença estão a surgir em todas as faixas etárias, incluindo jovens adolescentes.
Questionada pela TSF, a DGS não adiantou, até agora, qualquer dado sobre os doentes registados nos últimos meses em Portugal, nomeadamente a idade, localização ou estado vacinal.
Até agora as crianças de maior risco eram as mais novas, até aos seis meses de idade. O pediatra Jorge Amil Dias admite que "poderá haver falhas na vacinação das grávidas", a primeira fase de prevenção da doença.
"Vacinar as grávidas ajuda a aumentar os anticorpos que os bebés recebem da mãe na altura do nascimento e, portanto, aumenta a proteção. O contato que tive durante a ocorrência de um maior número de casos com colegas que trabalham mais diretamente com estas situações, uma boa parte ,para não dizer a grande maioria dos casos que ocorreram ou que justificaram o internamento em bebés, ocorreram de mães que não tinham recebido a vacinação durante a gravidez. Isto alerta para a necessidade de cumprir o programa nacional de vacinação das crianças, mas também de cumprir os planos e as recomendações de imunização durante a gravidez", avisou, em declarações à TSF, Jorge Amil Dias.
O Plano Nacional de Vacinação tem grande cobertura no país, também no que se refere à tosse convulsa. Ainda assim, a vacina não é, neste caso, eficaz a 100%. Limita é o número e a gravidade da doença nas crianças infetadas.
Gustavo Tato Borges, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, explica que estes casos de tosse convulsa "são pontuais". No entanto, os portugueses não têm que recear.
"São mais do que é habitual, muito mais porque já estamos a falar em cerca de 200 casos diagnosticados agora desde início do ano, quando normalmente andamos à volta dos 20 ou 30 por ano, o que mostra um aumento muito considerável do número de casos diagnosticados agora e isto tem a ver com vários assuntos. Em primeiro lugar é normal esta doença ter picos a cada três, quatro ou cinco anos e é previsível que aconteça, volta e meia, um aumento grande do número de casos, mesmo em populações altamente vacinadas como a nossa. Temos também uma mudança no paradigma do diagnóstico das doenças respiratórias com a introdução de novos métodos de diagnóstico que rastreiam para um conjunto alargado de microrganismos quando antes se faziam análise mais dirigidas e, por isso, se calhar muitos casos com sintomatologia respiratória acabavam por não ter um diagnóstico associado e agora já temos essa possibilidade e aliado também ainda à mobilidade que existe cada vez maior entre as populações, permitindo a entrada de pessoas que, não estando vacinadas, podem estar também infetadas com esta doença e acabam por depois permitir a transmissão entre a população", explicou Gustavo Tato Borges.
Devido à boa taxa de vacinação no país não há casos graves.
"A grande, grande maioria destes casos, destes 200 casos, não são doença grave. Aliás, não é conhecida nenhuma fatalidade e em termos de internamentos são residuais, o que mostra que a nossa proteção vacinal continua a dar-nos uma segurança de que não temos consequências negativas graves associadas a este conjunto de infeções e, por isso, há necessidade de manter a tónica na importância da vacinação. E, obviamente, cada vez que houver algum diagnóstico ou alguma sintomatologia respiratória que possa fazer suspeitar de uma infeção é importante resguardarmo-nos, evitar contato com pessoas vulneráveis, minimizar os contactos entre as pessoas para que, cada vez menos, haja esta disseminação facilitada entre a nossa população", esclareceu o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.
Os casos que têm surgido nos últimos meses afetam, sobretudo, crianças e abrangem todo o país.
"A grande maioria são crianças, obviamente, até pelo fruto do contato próximo que têm em ambiente escolar e a facilidade que existe de haver contactos e transmissões entre ele, mas já existem alguns casos entre adultos. A grande, grande maioria são crianças, o que é habitual havendo a necessidade de manter esta questão da vacinação. Nós temos uma boa cobertura vacinal nas crianças, com taxas de cobertura vacinal acima de 95% e de mais de 85% nas grávidas, que é outra importante forma de nos proteger, porque faz com que as crianças que nascem e que ainda não podem ser vacinadas estejam mais protegidas e são mecanismos extremamente importantes para continuarmos a ter estes níveis de resultados de ausência de fatalidades e de casos com baixa gravidade, que é o mais importante", acrescentou.
A Direção-Geral da Saúde avança que as unidades de saúde públicas e privadas já foram alertadas e pede mais testes à infeção que causa tosse convulsa, atenção a quem possa não estar a ser vacinado e identificação de focos da doença a nível regional e local.