Trabalhadores denunciam falta de investimento na Soflusa e temem pela segurança dos passageiros
A líder do Bloco de Esquerda fez a travessia do Tejo, acompanhada pela Comissão de Trabalhadores da empresa, e escutou as preocupações de quem navega diariamente em barcos que, reclama, não estão preparados para emergências.
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O som de uma buzina ecoa pelo terminal fluvial. Os passageiros concentram-se junto os torniquetes. O navio está pronto a partir do Terreiro do Paço, em direção ao Barreiro. Mas esta é uma travessia que, afirmam os trabalhadores da Soflusa e da Transtejo, está a tornar-se cada vez mais arriscada.
Paulo Rodrigues, da Comissão de Trabalhadores da empresa, considera que a falta de investimento em recursos humanos e técnicos pode estar a pôr em causa a segurança dos passageiros.
"Somos quatro tripulantes, sendo que um dos tripulantes - que é o mestre - não sai da ponte, que é o rádio operador do navio. Sobram três tripulantes para 700 passageiros, e que têm de saber distribuí-los pelos meios de salvamento. E isso, na prática, não foi testado", denuncia.
"Esperamos sempre que corra bem, não é? Infelizmente, continuam a cair aviões, continuam comboios a descarrilar... Onde está o homem está o perigo", atira.
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Paulo Rodrigues considera até que o problema da falta de marinheiros e maquinistas está a ser agravado pela falta de eficácia do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
"Houve jovens que tiraram formações para iniciarem a carreira nas máquinas, e era para irem estagiar para a Transtejo, onde faz mais falta. E agora está tudo travado há sete meses, porque o IEFP não dá resposta", reclama.
Preocupações que foram ouvidas, esta segunda-feira, pela coordenadora do Bloco de Esquerda, que realizou a travessia, acompanhada pelos membros da Comissão de Trabalhadores da Soflusa.
Em declarações aos jornalistas, Catarina Martins constata que é positivo que haja mais pessoas a utilizar os transportes públicos - embora, considere que isto se deve, por exemplo, ao aumento do custo de vida e do preço da habitação em Lisboa -, mas sublinha que o aumento do número de passageiros tem de ser acompanhado por mais investimento nas empresas de transporte fluvial.
"O problema é que o investimento que foi prometido em mais barcos, mais carreiras e mais tripulantes nunca apareceu. O que quer dizer que, pura e simplesmente, se põem mais passageiros nos barcos que existem - o que coloca problemas crescentes à operação e à tripulação", refere.
A líder do Bloco de Esquerda nota ainda que outra das questões que precisam de ser resolvidas é a subida dos salários dos trabalhadores, que enfrentam, nesta altura, uma situação de crise interna, com uma administração da empresa demissionária, na sequência da polémica com a compra de navios sem baterias.
"Estes trabalhadores não estão sequer a ter os aumentos salariais que António Costa prometeu a todos os trabalhadores da esfera do Estado", aponta Catarina Martins, que acusa o Governo de "fugir" às responsabilidades.
Para questionar o Executivo socialista, o Bloco de Esquerda já chamou ao Parlamento o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro. Também a administração da empresa de transporte fluvial será ouvida na Assembleia da República.