"Trabalhamos em condições quase suicidas." Dia Internacional do Bombeiro assinalado esta 4.ª feira
Esta quarta-feira assinala-se o Dia Internacional do Bombeiro, data que marca também o 20.º aniversário da inauguração da nova ponte de Entre-Os-Rios. Dois bombeiros partilham memórias e falam sobre os desafios desta profissão.
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Foi em 2001 que a Ponte Hintze Ribeiro desabou e tirou a vida a 59 pessoas. Os bombeiros foram os primeiros a chegar ao local do acidente e a entrar no Douro à procura dos corpos. António Almeida e Filipe Jesus são dois dos bombeiros que participaram nas primeiras operações de socorro. Neste Dia Internacional do Bombeiro recordam memórias e falam sobre a "dureza" desta profissão.
Em julho, António Almeida completa quatro décadas nos Bombeiros Voluntários de Entre-Os-Rios. "Ser bombeiro é deparar-se com todo o tipo de situações. Desde incêndios, doença súbita, acidentes, inundações, quedas de árvores, retirar animais..."
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Na noite de 4 de março de 2001 estava de serviço no antigo quartel dos bombeiros de Entre-Os-Rios e foi dos primeiros a entrar no Douro. "Fomos a primeira equipa que se lançou na água na tentativa de recuperar algum corpo após a queda, sem segurança. A partir do momento que chegou a polícia marítima aconselhou todos a saírem da água. Estava escuro com breu, a água com uma corrente terrível, corríamos o risco de perder mais vidas."
Um trabalho duro. Em quase 40 anos são muitas as histórias e memórias e há uma que não esquece. "Aqui no cais do Torrão, de madrugada uma mãe desesperada enfiou os dois filhos no carro e lançou-se à água... morreram afogados."
Filipe Jesus é o atual comandante dos Bombeiros Voluntários de Entre-Os-Rios, tem 46 anos e trabalha aqui desde os 13. "Isto de ser bombeiro ou se gosta muito ou não se gosta, aqui não existe mais ou menos."
Tinha 25 anos quando se deu a queda da ponte de Entre-Os-Rios. "Não tive que entrar para o rio porque não sei nadar. Tivemos uma equipa que quase em condições suicidas entrou na água. Ninguém está preparado para ter a queda de uma ponte em que morrem 60 pessoas, estive uma semana nas operações na ponte. Faltei ao meu trabalho, foi uma coisa que nos marcou a todos."
Também para Filipe Jesus esta não foi a missão mais difícil que teve como bombeiro. "O mais marcante foi quando fui acionado para o atropelamento de uma criança de 4 anos que me morreu nos braços. Esta ficou-me cravada."
O comandante Filipe Jesus e o companheiro de quartel António Almeida lamentam que o trabalho dos bombeiros seja ignorado e desvalorizado por muitos.