Transportes "em contramão". Zero alerta que redução de gases com efeito de estufa é lenta
A associação ambientalista assinala o aumento de emissões nos setores dos transportes e na agricultura.
Corpo do artigo
As emissões de gases com efeito de estufa (GEE) estão a descer mas num ritmo lento, alerta a associação ambientalista Zero, que salienta o aumento de emissões nos setores de transportes e na agricultura.
Numa análise aos últimos dados disponíveis sobre emissões de GEE, relativas a 2021 e comunicadas por Portugal às Nações Unidas, a Zero lamenta que o setor dos transportes esteja "em contramão", que as emissões na agricultura estejam "persistentemente altas", e que as emissões nacionais de gases fluorados (para refrigeração) se mantenham duas vezes mais altas do que os valores europeus.
TSF\audio\2023\05\noticias\27\19_rita_prates_1_transportes
Segundo os números da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) as emissões de GEE em 2021, não considerando as alterações de uso do solo e floresta (que incluem emissões de incêndios, por exemplo), totalizaram 56,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), representando uma redução de cerca de 2,8% face a 2020 e de 34,8% face a 2005.
Considerando a componente florestal e a utilização dos solos o valor das emissões foi de 50,5 milhões de toneladas, uma redução de 5,5% face a 2020 e de 44% face a 2005.
"Isto significa que, desde 2005, as emissões têm baixado a um ritmo médio de cerca de 2,6% ao ano, o que é menos do que seria necessário. Recorde-se que, no âmbito da Lei de Bases do Clima, Portugal deverá até 2030 reduzir as suas emissões em pelo menos 55% face a 2005, devendo chegar a esse ano com não mais de cerca de 38,5 milhões de toneladas de CO2e", salienta a Zero em comunicado.
TSF\audio\2023\05\noticias\27\20_rita_prates_2_investir
Tal quer dizer, diz a associação, que as emissões de 2021-2030 terão de baixar em média pelo menos 04% ao ano, a um ritmo superior do que até agora. E avisa a Zero que tem de começar agora a descarbonização em setores mais difíceis, porque a parte mais fácil de descarbonizar foi feita: a redução de 2021 deveu-se essencialmente ao decréscimo de 22,2% das emissões na produção de eletricidade, com o fim das centrais a carvão e aumento da produção de energia renovável.
O setor dos transportes, nota a Zero, é um dos problemas, representando 28,2% das emissões de GEE em 2021, contra 25,8% em 2020. Emite mais do que o setor da energia (15%) ou a agricultura (13%).
O maior contribuinte para o problema são os automóveis. Portugal e Lituânia lideram no uso do automóvel, consequência da falta de investimento na rede ferroviária e em transportes públicos eficazes.
Transportes públicos combinados com mobilidade suave e limitação de entrada de automóveis nas cidades, porque os transportes públicos nunca cumprirão horários em ruas entupidas de carros, ciclovias e comboios são a solução, refere, lembrando que a poluição atmosférica mata prematuramente cerca de 6.000 portugueses por ano.
A Zero salienta ainda que as emissões da agricultura aumentaram 04% desde 2005, especialmente devido ao setor pecuário e especialmente devido ao aumento substancial de bovinos e suínos.
Menos bem está também a situação quanto à emissão de gases fluorados, usados nomeadamente em sistemas de refrigeração, com a Zero a alertar que as emissões em Portugal representam mais do dobro da média europeia. E que estes gases são centenas de milhares de vezes piores do que o CO2.
O hexafluoreto de enxofre, um gás fluorado, tem um potencial de aquecimento global milhares de vezes superior ao CO2 e dura mil anos, exemplifica a associação.
A Zero lembra que só uma pequena parte dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos é recolhida para reciclagem e que a generalidade dos equipamentos frigoríficos, ares condicionados e similares que são recolhidos chega sem as componentes que conteriam esses gases, que já terão sido libertados para a atmosfera.