O ministro realçou que o país tem um “problema brutal, que é o stock de vinho”.
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Duas das organizações de viticultores da Região Demarcada do Douro concordam com o ministro da Agricultura, que disse, em entrevista à edição do jornal Público desta segunda-feira, que é preciso pôr um travão nos apoios à plantação de vinhas novas em Portugal.
José Manuel Fernandes realçou que o país tem um “problema brutal, que é o stock de vinho”, e que, até agora, já se gastaram em destilação “60 milhões de euros”. Um número que também considerou “brutal”, pelo que “já se deveria ter parado há muito os apoios para vinha nova”.
Em suma, até agora tem-se apoiado a plantação e a seguir, como não se consegue vender todo o vinho, apoia-se a destilação, nomeadamente para aguardente, para aliviar as adegas e arranjar espaço para acolher a vindima seguinte.
No Douro também há quem entenda que as ajudas às novas plantações já deviam ter parado. Rui Soares, presidente da Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro), defende que, “no atual estado das coisas, é necessário repensar as prioridades”.
O responsável nota que, se há uns anos, a prioridade do país era a reestruturação e a modernização das vinhas, “e bem”, na conjuntura atual “de aumento da inflação e dos custos de produção, e da diminuição do consumo de vinho em termos mundiais, é preciso ver se se deve continuar a investir os apoios comunitários no sentido do aumento da produção”.
Rui Soares acrescenta que o país tem recorrido aos apoios à destilação de vinho, que “são sempre bem-vindos”, mas “não se podem transformar ajudas pontuais numa determinada conjuntura, como foi o caso do tempo da pandemia da covid-19, em apoios recorrentes”. “Não tem lógica estar a produzir uvas e vinho para depois destilar”, insiste o presidente da Prodouro.
Rui Paredes, presidente da Federação Renovação Douro, lembra que já tinha alertado para o problema do excesso de vinho no Comissão Parlamentar de Agricultura na Assembleia da República. “Fruto da instabilidade que se vive e da crise instalada, sentimos que há uma redução substancial nas candidaturas ao programa VITIS [reestruturação e reconversão de vinhas]”, destaca Rui Paredes.
Segundo este dirigente, também produtor de uvas, “as pessoas sentem que não é razoável fazerem qualquer tipo de investimento”. O problema foi levantado no Parlamento porque “não faz sentido o Estado estar a financiar para produzir mais e ao mesmo tempo financiar para fazer destilações de crise”.
