Tumultos na Grande Lisboa. Dois suspeitos ficam em prisão preventiva após incêndio em autocarro
Os suspeitos são alegadamente os responsáveis pelo incêndio e ataque direto contra um autocarro em Santo António dos Cavaleiros, em Loures
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A PJ anunciou esta quinta-feira que dois dos três suspeitos indiciados pelos crimes de homicídio qualificado na forma tentada, incêndio e dano, durante os tumultos na Grande Lisboa, ficaram em prisão preventiva.
"O Tribunal de Loures decidiu aplicar a medida de coação mais gravosa a dois dos três detidos, ontem, pela Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo da PJ, no âmbito uma operação policial, realizada em Santo António dos Cavaleiros, para cumprimento de oito mandados de busca", explica esta força policial, numa nota enviada às redações.
Os suspeitos são alegadamente os responsáveis pelo incêndio e ataque direto contra um autocarro em Santo António dos Cavaleiros, em Loures, durante a onda de tumultos gerada na Área Metropolitana de Lisboa pela morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, há cerca de um mês.
O autocarro da Carris Metropolitana já estava sem passageiros quando se deu o incidente, mas o motorista, que ainda estava no interior, sofreu "queimaduras graves na face, tórax e membros superiores", adiantou na altura a PSP.
A PJ, que recolheu como elementos de prova telemóveis e peças de roupa, que os suspeitos terão usado na noite dos tumultos, garante que as "investigações prosseguem".
De acordo com fonte da Rodoviária de Lisboa, operador para o qual trabalha o motorista, este teve "alta hospitalar a semana passada, encontrando-se em recuperação em casa".
O cabo-verdiano Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois.
Nos tumultos que sucederam à sua morte, nos dias seguintes, foram incendiados mais autocarros, dezenas de automóveis e contentores do lixo, mas o ataque que deixou em estado grave o motorista é o mais grave em investigação.
De acordo com a versão oficial da PSP, Odair Moniz ter-se-á posto "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
As autoridades desencadearam inquéritos, mas ainda não são conhecidas conclusões.