"UE tem responsabilidades." Eurodeputado defende revisão de Política Agrícola Comum
No Fórum TSF desta quarta-feira, José Manuel Fernandes defende o "envolvimento dos agricultores” nas políticas adotadas.
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O protesto dos agricultores franceses tem motivado outros países europeus a juntarem-se ao movimento, inclusive Portugal. Depois da Confederação Nacional de Agricultores (CAN) ter anunciado promover iniciativas regionais de protesto, o tema esteve em debate no Fórum TSF desta quarta-feira e levou o eurodeputado do PSD José Manuel Fernandes e a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI) a defenderem uma revisão da Política Agrícola Comum.
“A União Europeia tem responsabilidades”, começou por considerar o eurodeputado José Manuel Fernandes. “Temos que fazer uma transição climática, mas não podemos fazê-la se o envolvimento dos agricultores”, acrescentou, acusando quem tem poder de nem sempre ouvir os profissionais do setor.
José Manuel Fernandes concorda com as iniciativas regionais de protesto para fevereiro promovidas pela CNA e defende uma revisão da Política Agrícola Comum.
A mesma posição é defendida pelo secretário-geral da CONFAGRI, Nuno Serra, que vê nas eleições de março uma oportunidade para que fomentar o debate.
“Temos eleições à porta. Não há melhor forma de mostrar o nosso descontentamento e pôr os políticos com assento parlamentar a discutirem”, afirma.
“O mundo rural e o setor alimentar têm que efetivamente ter uma palavra-chave a dizer naquilo que são as políticas”, sublinha.
No entanto, nem todos concordam com os protestos dos agricultores portugueses. No Fórum TSF, o presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, Macário Correia, lembra que não existem “problemas comuns a todos” na Europa.
“Em França há uma questão concreta relacionada com o gasóleo. Na Alemanha são outros os problemas. Nós, aqui no Algarve, temos uma questão mais relacionada com a seca. A nível nacional, as questões têm que ver com algumas formas de pagamento para alguns subsídios”, refere Macário Correia.
“São problemas que não são exatamente iguais e há coisas que se devem ser resolvidas diplomaticamente. (...) O direito ao protesto que existe é legítimo, mas nem todas as coisas se resolvem assim”, conclui.
Por seu turno, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) volta a reforçar esta quarta-feira que o protesto dos agricultores franceses tem criado limitações às transportadoras portuguesas e provocado “prejuízos muito elevados”.
“Os transportes estão a ser muito penalizados com isto e a incorrer em gastos. Há motoristas parados, sem possibilidade de regresso a casa, filas intermináveis... Estamos a viver situações complexas nesta greve em França”, nota o vice-presidente da ANTRAM, Gustavo Paulo Duarte.
Os agricultores franceses estão a bloquear várias estradas no país para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira. Macron já deixou clara a oposição da França sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul e pediu uma revisão sobre as importações da Ucrânia.
No que respeita aos apelos do presidente francês para uma suspensão com os parceiros sul-americanos, a eurodeputada do PS Isabel Carvalhais alerta que é necessária “alguma cautela” para não “misturar” os temas: “Uma coisa são as dificuldades e os problemas concretos dos agricultores portugueses, que em muitos aspetos são parecidos àquilo que nós encontramos noutros países europeus, mas depois cada país tem a sua especificidade.”
O problema da França com o Mercosul “não é de agora” e o país tem também questões a tratar com “os próprios agricultores ucranianos, o que é algo que não é dito, mas que é verdade”, além de querer ser "uma grande exportadora mundial, mas depois tem esta dificuldade de não conseguir travar, obviamente, as importações”.
Assim, Isabel Carvalhais apela a que não se misture "aquilo que são reivindicações dos agricultores franceses com aquilo que são reivindicações legítimas dos agricultores portugueses”, embora lhes reconheça "pontos de contacto”.
Urgente mesmo é, aponta, "de facto garantir uma muito mais justa distribuição da própria cadeia de abastecimento alimentar”.
Entretanto, há protestos na Bélgica e as três principais organizações agrícolas espanholas anunciaram terça-feira a adesão ao movimento de protesto dos agricultores europeus com uma série de mobilizações em todo o país durante as próximas semanas.
Em Portugal, os agricultores reclamam a regulação do mercado (incluindo os fatores de produção) com medidas que protejam agricultores e consumidores e o fim dos "tratados de livre comércio" e da concorrência desleal do agronegócio internacional com produtos oriundos de países terceiros da União Europeia, que não têm de cumprir as mesmas regras sociais e ambientais.
