"Um caso de emergência sanitária." Língua azul afeta centenas de explorações pecuárias
A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária considera que há vacinas em número suficiente para avançar já com essa vacinação dos animais e apela aos produtores que o façam quanto antes
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“Autorizamos excecional e temporariamente durante um ano, a utilização de uma vacina contra esta doença que apareceu em Setembro no nosso país pela primeira vez”, esclarece à TSF a diretora-geral de Alimentação e Veterinária. Susana Pombo considera que o aparecimento da febre catarral ovina, conhecida por doença da língua azul “é um caso de emergência sanitária”. Por esse motivo, Portugal utilizou uma derrogação que a legislação comunitária prevê para autorizar uma vacina que não é comercial.
A DGAV considera que há vacinas em número suficiente para avançar já com essa vacinação dos animais e apela aos produtores que o façam quanto antes. Os animais não eram imunes ao serótipo 3 da doença que está a dizimar os rebanhos por ser uma doença nova. "O que aconteceu foi que também os laboratórios farmacêuticos existentes no território da União Europeia não estavam preparados para uma doença que não existia (...) e daí que ainda não exista uma vacina comercial", esclarece. No entanto, já há três laboratórios que estão a produzir esta vacina e “aos três foi dada esta autorização extraordinária” para que os veterinários das explorações a ela possam aceder.
Susana Pombo admite que a vacina possa vir a fazer parte do Plano Nacional de Vacinação obrigatório dos animais, mas "esse plano será desenhado em 2025". "Aquilo que temos de fazer é uma compra pública desta vacina, que demora o tempo que a legislação prevê, por força de ser um concurso público internacional", adianta. Nessa medida, só em meados do próximo ano se prevê que essa compra possa ser feita, "daí a emergência de disponibilizar agora a vacina".
Os números apresentados pelos produtores pecuários são diferentes daqueles disponibilizados pela DGAV. Os produtores garantem que só num dia da semana passada registaram a morte de dois mil cabeças de gado. "Ontem [terça-feira] nós tínhamos 41 explorações de bovinos afetadas e 238 explorações de ovinos. Destas explorações de ovinos, que tem sido a espécie mais afetada, tínhamos perto de 12 mil animais afetados e cerca de 1700 animais mortos", avança a DGAV.
"Os dados oficiais naturalmente são aqueles que os senhores criadores reportam", esclarece a diretora-geral. Susana Pombo explica que essa notificação é essencial para se tomar decisões: "Neste momento já existe a decisão de poder aumentar o apoio às organizações de produtores que estão no terreno com os seus médicos veterinários a vacinar os efetivos", assegura. "O Ministério [da Agricultura] tem uma subvenção anual atribuída a estas organizações de seis milhões de euros e vamos aumentar para sete milhões em 2024", afirma. Quanto a eventuais apoios aos agricultores por causa dos animais mortos, a diretora da DGAV diz que "estão a avaliar a situação de cada uma das explorações".
A doença da língua azul é transmitida por um mosquito que infeta os animais. Habitualmente surge com as temperaturas mais elevadas. No entanto, mesmo nesta altura Susana Pombo afirma que não se pode ainda dizer que o risco está a ser reduzido. “Para já, é expectável que, com as temperaturas a descer, a sintomatologia clínica reduza drasticamente, porque o vetor deixa de existir”, explica a Diretora- Geral de Alimentação e Veterinária. Mas, "provavelmente só lá para Dezembro", se poderá falar numa situação melhor. "Estamos com temperaturas na ordem dos 20 °C e precisávamos que elas tivessem na ordem dos 7 °C para que o vetor deixasse de estar a circular", lamenta.