Um "comboiozinho" que é "história" e quer ser "cultura". Transpraia pode voltar a cruzar a Costa da Caparica em 2026
O novo dono do comboio garante que já teve conversas “muito boas” com vereadores, mas acusa a Câmara Municipal de Almada de estar a deixá-lo “pendurado”. A autarquia alega que ainda não recebeu uma proposta formal de projeto e avisa que o Transpraia precisa de mudanças antes de voltar a circular
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O francês Gregory Bernard (Greg) quer devolver o Transpraia à Costa da Caparica, antes do verão de 2026, enquanto a Câmara Municipal de Almada (CMA) garante que ainda aguarda para conhecer o plano do empresário para o “comboiozinho”. A junta de freguesia da Costa da Caparica não tem mão direta no tema, mas vai fazendo pressão para que o transporte volte a circular o quanto antes.
O novo dono do Transpraia, desde janeiro de 2024, garante que já contactou a CMA e que teve conversas “muito boas” com os vereadores José Pedro Ribeiro e Filipe Pacheco, e com a própria presidente da autarquia, Inês de Medeiros. A Câmara tem respondido aos jornalistas (por escrito) que reconhece as vantagens de recuperar o comboio, nomeadamente para tentar diluir o trânsito na Costa da Caparica, sobretudo junto às praias, mas avisa que o Transpraia, como está, não pode ser reativado, por ser demasiado poluente, pouco eficiente e, acima de tudo, porque Greg ainda não tem autorização para recuperar os carris, que são propriedade do Estado e atravessam as dunas numa zona considerada de risco, por causa do avanço progressivo das águas do mar, nos últimos anos.
"A autarquia está neste momento focada na conclusão de um estudo preliminar de reordenamento ambiental da sua frente atlântica, encomendado à Faculdade de Ciências e Tecnologia, que definirá as condicionantes de traçado sobre o sistema dunar entre a Costa da Caparica e a Fonte da Telha", lê-se no comunicado enviado às redações.
Ouvida pela TSF, fonte da autarquia não nega que já houve conversas informais com Greg, mas assegura que o empresário ainda não apresentou um plano formal e estruturado sobre o que quer fazer com o Transpraia. Greg insiste, porém, que “é preferível ter algo funcional agora do que esperar 30 anos por um projeto muito ambicioso e aturar o trânsito infernal até lá”.
Isto mesmo assegurou o empresário francês, quando recebeu a TSF no hangar do Transpraia. Demorou cinco meses a limpar tudo quando ali chegou, depois de já ter comprado os espaços que são hoje os bares “Dr. Bernard” e “Myra Ostraria”, no paredão da Costa. O hangar, junto à praia da Riviera, está hoje convertido num espaço cultural, onde acolhe já dois novos artistas, nos antigos escritórios. Já as locomotivas continuam paradas desde 2019, quando o Transpraia circulou pela última vez.
Gregory Bernard assegura que já investiu quase um milhão de euros na recuperação do comboio e espera gastar, pelo menos, mais cinco milhões. Parte do dinheiro foi já usado em estudos, nomeadamente com a consultora JLL, que concluiu que o Transpraia pode ajudar a retirar perto de “300 carros das estradas da Costa, o equivalente a cerca de 3% do trânsito na ponte, 10% do trânsito na Caparica e 100% do estacionamento ilegal junto às praias”, garante o francês.
O Transpraia fez a primeira viagem a 29 de junho de 1960, ligando o centro da Costa da Caparica à Praia da Fonte da Telha. Em 2007, o percurso foi reduzido, passando a começar na Nova Praia (junto ao Parque de Campismo), já no limite da cidade, o que acabou por ir afastando passageiros, aos poucos. Em 2019, a pandemia de Covid-19 foi o fim da picada para o comboio, e o Transpraia parou de vez.
Agora, Gregory Bernard quer dar uma nova vida ao comboio, com novas estações e uma linha elétrica (a troco de cerca de 200 mil euros, segundo um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa) que o empresário quer ver estendida até à Trafaria, para fazer ligação com os barcos que cruzam o Tejo, em direção a Lisboa. Greg sonha ainda recuperar o projeto original do Transpraia, com uma linha ferroviária que vá até Sesimbra.
Em declarações à TSF, o presidente da junta de freguesia da Costa da Caparica, José Ricardo Martins, sublinha que a autarquia não tem competências diretas para fazer com que o Transpraia volte a circular, mas ressalva a capacidade de "reivindicar" e de tentar que as "coisas cheguem a bom porto". Apela, por isso, à Câmara Municipal de Almada para que dê o apoio necessário ao regresso do comboio.
"Seria um desconhecimento completo do que são as dinâmicas e a cultura até da Costa da Caparica, se estivessem contra ou se não fizessem a dita pressão", adianta.
