Em Vila Real de Santo António, o farol tem muitas histórias para contar.
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O faroleiro Pedro Caetano tem sorte. Já raramente é obrigado a subir os muitos degraus que levam até ao cimo do farol de Vila Real de Santo António: são 215. "Acordar e subir lá acima custa bastante", diz a rir. Desde 1957 que foi instalado um pequeno elevador que transporta faroleiros e visitantes até ao cimo, a uma altura de 46 metros. O faroleiro só lamenta que quem visita o espaço esteja mais preocupado em tirar selfies: "Nós esperamos é que a pessoa tenha interesse em como funciona o farol, o que faz o faroleiro."
Mas não é o que geralmente acontece, porque quem chega lá acima depara-se com uma vista deslumbrante. Vê-se o rio Guadiana, toda a cidade de Vila Real de Santo António e a sua mata nacional, bem como a cidade espanhola de Ayamonte.
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Quando foi inaugurado, há cem anos, o farol trabalhava com uma luz a petróleo e hoje, apesar de toda a tecnologia já existente em muitas embarcações, a luz de mil Watts ainda é necessária. Os quatro faroleiros que ali trabalham têm de se preocupar diariamente com toda a manutenção da infraestrutura e, sobretudo, de toda a maquinaria que a faz funcionar: ter sempre a lâmpada e todos os vidros refletores limpos, para que a luz do farol ilumine a navegação.
"Quando foi projetado, as suas fundações teriam que ter 6 metros", lembra o comandante do porto de Vila Real de Santo António. E no local onde foi construído na altura não seria fácil. Chamava-se Santo António de Arenilha, por estar em cima de terreno arenoso. A construção acabou por se fazer 20 anos mais tarde, já com fundações em betão armado.
Fernando Pessanha, historiador da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, lembra que esta infraestrutura foi concebida na Primeira República, numa altura em que o país apostava na modernidade. "Muitos dos grandes feitos assinaláveis da ciência dos inícios do século XX passam-se nesta altura e este farol é um testemunho do momento histórico do progresso de Vila Real de Santo António, ligado à pesca e indústria conserveira", conta.
O comandante do porto de Vila Real de Santo António e o historiador lembram que a construção do farol ficou ensombrada pela morte de 14 trabalhadores que caíram de um andaime quando estavam a realizar os trabalhos. No entanto ,em todos estes anos de existência, houve sempre famílias de faroleiros que ali viveram e registaram-se também nascimentos felizes, como recentemente alguém lhe contou.
"Um senhor veio ter connosco e lembro-me de ele ter dito que o pai estava de serviço quando ele nasceu. O pai, rádio-faroleiro, só pôde ir ver o filho quando acabou o turno", conta João Afonso Martins. "Eram funções muito exigentes", explica o comandante.