Um labrador, gritos e um crime. Bastonária dos enfermeiros contrapõe relatório da IGAS
Ana Rita Cavaco acusa os inspetores da IGAS de "sequestrarem" uma funcionária da OE e diz que agentes da PSP no local presenciaram um crime e não intervieram.
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A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, rejeita as acusações da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, que num comunicado emitido esta noite garante que os seus agentes não entraram sem mandado nas instalações da OE nem retiveram ilegalmente uma funcionária.
No comunicado, a IGAS apresenta a versão do que se passou esta manhã, nas instalações da Ordem, onde uma equipa de inspetores, acompanhada pela PSP, realizava diligências de instrução no âmbito da sindicância ordenada pela ministra da Saúde.
A IGAS esclarece que, por volta do meio-dia, os inspetores sindicantes estavam a falar com uma trabalhadora da OE, no seu gabinete de trabalho, uma diligência que estava a ser "desenvolvida dentro da normalidade e com uma postura colaborante e tranquila por parte da trabalhadora", quando a bastonária, Ana Rita Cavaco, entrou na sala "aos gritos", acompanhada por um cão preto sem trela, e ordenou à trabalhadora em causa que saísse da sala, "impedindo-a de continuar a diligência".
Na reação a este comunicado, a Ana Rita Cavaco esclarece, em declarações à TSF, que o cão em causa é propriedade particular e que o mesmo está diariamente nas instalações da OE.
"É um labrador e, portanto, não faz mal a uma mosca. Poderia ter havido perigo dos inspetores fazerem mal a um labrador, mas nunca um labrador lhes fazia mal a eles. Se fosse um cão branco, não sei se diriam que era um cão branco... É meramente um cão, por acaso é preto. Efetivamente, nada do que ali está [no comunicado] corresponde à verdade", defende a bastonária.
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O documento da IGAS refere ainda que Ana Rita Cavaco "pontapeou a porta da sala e proferiu imputações e expressões injuriosas contra os inspetores ali presentes e puxou a trabalhadora para o exterior do gabinete, impedindo a prossecução da ação".
A bastonária garante que nunca foram dados pontapés na porta, "até porque não podia" fazê-lo, uma vez que a mesma estava barrada "por dois agentes da PSP".
Sobre a ação dos inspetores sobre a funcionária, Ana Rita Cavaco entende que a mesma foi sequestrada. "Já falou com o nosso tesoureiro. Disse que louvava muito a coragem que eu tive de tirá-la lá de dentro. Tive que chamar pelo nome dela para vir cá para fora. Ela só me dizia que estava impedida de sair, a chorar. Isso é confirmado por mais de 25 funcionários" da OE, nota Ana Rita Cavaco.
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Quanto aos agentes da PSP, a bastonária da OE acusa-os de terem presenciado um crime, deixando que tal acontecesse.
"As pessoas têm direito a um advogado, que ela [a funcionária em questão] solicitou várias vezes e que outros funcionários, que eles tentaram inquirir, também solicitaram", tendo esses mesmos funcionários recusado entrar na sala em questão depois da situação que presenciaram. Após este episódio, a bastonária diz ter ido até à direção nacional da PSP "contar o sucedido", mas sem apresentar queixa.
"Fomos contar ao senhor Intendente Coimbra o que tinha sucedido para saber, em primeira mão e antes de apresentar queixa - porque isso é relevante - se eram estas as instruções que os agentes que estavam a acompanhar os senhores inspetores tinham", resposta que terá sido negativa, tendo o Intendente em questão assegurado que os agentes da PSP não podem "presenciar um crime e deixá-lo acontecer".
Perante as diferenças entre as versões vindas a pública, Ana Rita Cavaco acusa a IGAS de mentir e põe em causa o relatório. "Não sei se eles entendem como postura tranquila e colaborante uma funcionária que está dentro da sala a chorar, a dizer que quer sair, que quer a presença de um advogado e que me diz, lá de dentro, 'senhora bastonária, não me deixa sair' ", alerta Ana Rita Cavaco.
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A bastonária entende que a IGAS não tem condições para prosseguir com a sindicância ordenada pela ministra, colocando em causa a isenção dos inspetores que participam na mesma.
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