Um mês depois do surto, o medo do vírus ainda por aqui "Mora"
Um mês depois do surto de Covid-19 ter surpreendido a população de Mora, que acumulou 64 infetados, os moradores continuam com medo que o vírus volte a ficar descontrolado. Os mais velhos vão preferindo ficar em casa, fugindo dos cafés, mas também há quem opte por fazer caminhadas pelos campos fora.
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Ângelo Festas tenta retomar a normalidade possível, mas, depois do susto que há um mês roubou o sono a população de Mora, este habitante da vila alentejana ainda procura manter-se afastado dos amigos de sempre e nem quer ouvir falar em idas a cafés.
"Não fui nem vou. Lá em casa tenho o que comer e beber", diz, admitindo que quando quer dar voltas maiores opta para fazer caminhadas "pela charneca próxima de casa. Não arrisco ainda nada", assume.
Do outro lado da rua quase deserta avista-se Maria de Conceição de máscara na cara. Vai à loja mais próxima fazer umas compras "a correr" e regressa à casa em passo acelerado. "Tenho muito medo ainda. Já consigo sair um bocadinho, mas isto ainda não está nada bom", desabafa à TSF.
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São exemplos de dois moradores de Mora que não escondem o medo, tendo ainda presente o pânico provocado pelo surto descontrolado que se instalou na vila a 9 de agosto. Em poucos dias registaram-se 64 casos ativos entre um total de 2500 habitantes.
"Foi muita gente para uma comunidade tão pequena", admite o presidente da Câmara, Luís Simão, recordando o pânico gerado pelo descontrolo do surto. "Foi muito difícil. Hoje, todas as famílias estão identificadas e as coisas controladas, apesar de ainda haver 49 casos ativos", sublinha o autarca, assumindo que os tempos continuam a exigir cautelas.
E a população sabe disso. Pelas ruas o receio encontra tradução no uso de máscara transversal à maioria dos habitantes, que se fazem acompanhar de pequenos frascos de gel desinfetante. "Temos que ter muito cuidado, foi um grande susto e ainda não passou", reforça Joaquina Paredes, que saiu apenas para ir pagar a água à câmara, mas também já está de volta. "Fui operada e tenho que evitar infeções", justifica.
Martim Casanova esteve entre as centenas de moradores que foram obrigados a fazer o teste à covid-19, logo no início do surto, por ter mantido contacto com pessoas que acusaram positivo. Habituado à liberdade de uma longa vida, assume que continua sem se conseguir adaptar a estes tempos de pandemia. "Não me sinto bem, ando de lado para lado, não sei onde hei de estar. Será que isto ainda vai durar muito tempo?", questiona de voz agastada.
Após um mês mergulhada na crise, a economia local vive dias difíceis. Até estava a dar sinais de alguma recuperação depois do confinamento, mas tudo se complicou a partir de 9 de agosto.
"De repente Mora fechou. Fecharam os restaurantes e as pessoas deixaram de entrar em Mora. Deixou de haver sítios para dormir, até porque também não havia clientes", lamenta ainda o presidente do município", revelando que a restauração e o turismo são dois dos setores com expressão significativa na criação de emprego.
"A partir do surto deixou de ser possível às empresas ter rendimentos para pagarem aos seus funcionários", resume Luís Simão, numa altura em que os restaurantes e cafés da vila vão abrindo quase a conta-gotas.
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