"Um pesadelo inimaginável" para o ambiente: petição pública já avançou contra projeto da Mina da Lagoa Salgada
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) deverá emitir o parecer sobre o empreendimento na próxima semana
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Em dois dias e meio, a petição pública contra a implantação da Mina da Lagoa Salgada, no distrito de Setúbal, conseguiu angariar mais de 1400 assinaturas. No documento, o grupo de cidadãos apresenta várias preocupações, nomeadamente com a utilização de águas subterrâneas, necessárias ao empreendimento.
O projeto da mina irá consumir um volume anual igual aquele que a empresa Águas do Alentejo fornece ao concelho de Grândola, garantem os subscritores. "É um inimaginável pesadelo", afirma o presidente da Associação Proteger Grândola. Guy Vilax lembra que a zona do Sado-Mira é uma das regiões com maior escassez de água no país e não há informação de como estão a “comportar-se os aquíferos”.
O projeto da Mina da Lagoa Salgada já teve o parecer negativo das câmaras de Grândola e Alcácer do Sal, de associações de agricultores e de cinco associações ambientalistas, mas a última palavra será da APA.
A este empreendimento — pertencente ao grupo Redcorps, uma subsidiária de um grupo canadiano — foi atribuído o estatuto de Potencial Interesse Nacional (PIN). “Trata-se de mais um exemplo de como a atribuição de estatuto PIN pode ser usada de forma discricionária para contornar restrições legais e facilitar a aprovação de um projeto privado, cuja utilidade pública é, no mínimo, muito discutível”, sublinharam as associações ambientalistas.
Naquele local está prevista a exploração subterrânea de vários minérios (cobre, chumbo, zinco, e metais associados, onde se incluem o ouro e prata), numa área superior a 1600 hectares. Para a exploração do ouro, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que esteve em consulta pública até dia 30 de abril, prevê a utilização de cianeto de sódio, um composto altamente tóxico.
“O entendimento que a Associação Proteger Grândola tem do processo é que por cada grama de ouro que o processo extrai do minério são necessários 200 gramas de cianeto de sódio!”, exclama. Ou seja, duzentas vezes mais.
No entendimento dos ambientalistas, a mina da Lagoa Salgada, que prevê uma exploração durante 11 anos, traria ainda acrescidos problemas ambientais ao nível do lixo depositado. Guy Villax utiliza uma imagem para descrever o que aconteceria: "Teríamos uma Torre Eiffel feíssima na planície alentejana", exemplifica. “Seriam nove milhões de toneladas de lixo, que é o mesmo que 90 e tal campos de futebol, amontoado a sete metros de altura até 24 metros de altura”, indigna-se.
O parecer da APA poderá ser conhecido na próxima semana.