Uma aldeia muçulmana no meio do mar conhecida pelo campo de futebol flutuante
A história de um campo de futebol que nasceu da paixão pelo jogo, numa aldeia em que o povo da Malásia e da Indonésia ocuparam o mar para fugir às regras dos terrenos tailandeses.
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Koh Panyee é uma pequena aldeia de pescadores muçulmanos, no meio do mar, construída sob estacas de madeira, na baía de Phan Nga, no sul da Tailândia. Ficou conhecida devido a um campo de futebol flutuante construído com restos de madeira e sob uma plataforma.
A obra é das crianças locais que, há cerca de 40 anos, não tinham espaço para construir um campo em terra, dada a reduzida área da ilha Koh Panyi, decidiram ser criativos.
É Alect que nos leva a conhecer a aldeia. Na verdade, ele próprio conhece o local como as palmas da mão e conta como tudo aconteceu.
"Eles queriam jogar futebol e começaram a recolher tábuas de madeira velha dos pescadores, juntaram-nas e construíram um campo de futebol na água, só para se divertirem. Quando a bola cai na água, mergulham para a apanhar. A maior parte dos rapazes são bons mergulhadores", revela o guia.
A paixão pelo futebol era tão forte que o que começou por ser uma brincadeira de amigos acabou com a formação de um clube - o Panyee FC. Inspirados pelo Campeonato do Mundo de 1986, a equipa decidiu oficializar-se para poder participar num torneio fora da ilha.
"Um dia decidiram formar uma equipa, foram à cidade e jogaram com outra equipa", recorda. "Não foram campeões, mas jogaram muito melhor do que todos imaginavam" e levaram a muitas questões: "São de uma ilha, vivem rodeados por água, 'como é que jogam tão bem?" Alect recorda que "jogaram sem sapatos" e quando foram ao torneio estava a chover, então "decidiram tirar as sapatilhas e jogar descalços". "Jogaram muito bem. Agora, esta aldeia é há sete anos campeã do sul da Tailândia", revela.
Hoje em dia, o campo de futebol original ainda existe, junto ao cais. Assim que chegamos à aldeia de Koh Panyee vemos o campo azul baloiçar com a chegada dos barcos. A plataforma está apoiada em vários módulos. Existe, mas já não é usado porque o sucesso e a garra da equipa levaram à construção de um campo de futebol de cimento. Ainda é comum jogarem descalços.
Mas a história desta aldeia de pescadores no Parque Natural de Phan Nga, a caminho da famosa ilha James Bond, não fica por aqui e os habitantes são maioritariamente muçulmanos.
"O povo original daqui é da Malásia e da Indonésia. Eram pescadores ou ciganos do mar, normalmente ficavam na ilha somente durante dois ou três anos e depois mudavam-se para outra ilha. A primeira geração ficou aqui quando o líder e os seus familiares e amigos procuravam um lugar seguro e quando descobriram a ilha colocaram uma bandeira na montanha, para que outros pudessem ver e juntar-se a eles", conta Alect.
No século XVIII existia uma lei que limitava a posse de terra às pessoas de origem tailandesa e as famílias malaias acabaram por constituir as suas casas no meio do mar, sob estacas de madeira.
"Começaram por ser duas famílias e depois a geração seguinte começou a construir na água e agora são 400 famílias, duas mil pessoas que vivem aqui. Estão aqui há cerca de 300 anos. A localização é muito boa, é protegida, tem muitas ilhas ao redor. Não há vento, tem muito peixe e é por isso que permanecem aqui há 300 anos."
Em 2014, esta aldeia não foi atingida pelo tsunami que destruiu o sul da Tailândia. A pesca continua a ser a principal atividade de quem aqui vive e o turismo impulsionou o crescimento da aldeia. É um dos pontos mais procurados por quem visita a baía de Phang Nga de Pukhet. Atualmente tem um mercado, restaurantes, muitas lojas e o comércio ocupa quase todas as ruas da aldeia. Foi construída uma mesquita e uma escola.
Do berçário aos 15 anos, estudam aqui 130 crianças. Alect conta que os mais velhos estudam na cidade do regressam ao fim de semana.
"São tailandeses, mas são tailandeses muçulmanos, a aldeia tem muitas crianças e idosos, porque os mais novos vão para a cidade para estudar em liceus e nas universidades", realça, frisando que "alguns conseguem bons empregos, ganham muito dinheiro e ficam por lá", mas outros acabam por regressa à aldeia. Aqui, a maior parte dos homens "trabalha nos barcos como pescadores ou motoristas" e as mulheres "trabalham em restaurantes e lojas de souvenirs".
A aldeia de Koh Panyee fica junto a uma enorme rocha de calcário, com 20 metros, no meio da Baía de Phang Nga, que parece ter caído de pé na água do mar, o topo é largo e a base estreita. Esta rocha marca a chegada à Ilha James Bond.
A aldeia só é acessível por barco. A partir de Pukhet a viagem numa lancha rápida demora cerca de uma hora.