A vizinhança da cidade Invicta faz de Rio Tinto um dos subúrbios mais populosos, marcados pelo desordenamento urbanístico, mas onde pontifica, há 14 anos, um restaurante tradicional e com uma cozinha de bom nível.
Corpo do artigo
Rio Tinto é um dos subúrbios do Porto mais densamente povoados, reflexo de uma desordenada expansão imobiliária que ocupou os terrenos do vasto couto, pertencente ao antigo convento das Agostinhas, mais tarde Quinta das Freiras.
Povoação anterior à fundação da nacionalidade, Rio Tinto tem o nome associado a uma lenda: no século IX, em plena reconquista cristã, ter-se-á travado sangrenta batalha nas margens de um curso de água nos arredores do Porto. Tão intensa foi a refrega, que as águas, límpidas antes da batalha, ganharam outra cor. E o rio ficou tinto. De sangue.
Desde então muita água correu através da freguesia gondomarense onde, há 14 anos, o restaurante Daniel é uma referência.
TSF\audio\2019\02\noticias\05\tsfmesa5
Para lá chegar, e apesar da localização central, o GPS dá ajuda preciosa para encontrar a rua do Mendalho onde está situada aquela casa de bem comer.
Ao leme está Daniel Gomes, que durante meia dúzia de anos ganhou experiência e armazenou conhecimento num estabelecimento similar, igualmente a funcionar em Rio Tinto.
O espaço é muito acolhedor, com 30 lugares disponíveis numa sala de paredes em pedra, rústica em toda a essência. Há quadros com dedicatórias, caixas em madeira com garrafas de vinho e artefactos dos mais variados tipos. Ambiente informal; mesas e cadeiras em madeira; atoalhados e guardanapos em pano.
A cozinha, feita com saber e à base de produtos de inegável qualidade, é, marcadamente, tradicional, privilegiando de algum modo os assados no forno, sem esquecer as tripas à moda do Porto; o cozido à portuguesa, o bacalhau de cura amarela ou os filetes de pescada fresca.
Para entreter o palato, salpicão, com direito a nota excelente; presunto; queijo e pataniscas, fofinhas, acabadas de fritar, polme no ponto e bem recheadas de bacalhau.
O ato seguinte teve como protagonista uma divinal carne assada, que chegou à mesa, fumegante, numa assadeira de barro. Carne de cortar à colher, suculenta e com um sabor fantástico, com tempero sublime.
A acolitar tão saboroso pitéu, batatinhas e arroz de forno. Uma verdadeira delícia.
Ao longo da semana, as opções são variadas - com um denominador comum, o peixe fresco - e com dia certo: a começar pela segunda-feira, em que há bacalhau à Gomes de Sá, um prato histórico, nascido no Porto e hoje quase desaparecido dos restaurantes da Invicta cidade; filetes de polvo com arroz do mesmo; vitela assada no forno e massa à parolo.
O pernil assado no forno é a vedeta das terças-feiras, e dos sábados mas neste dia tem a concorrência das tripas com feijão.
Suculentas e, hoje em dia, pouco habituais na restauração, as mãozinhas de vitela. À quarta-feira, têm a companhia, na ementa do dia, do lombo assado no forno.
No dia seguinte, destacam-se peito de vitela assado no forno e os callos à galega, aparentados com as tripas à moda do Porto. Culinária apurada, excelentes em termos de sabor,
Entrecosto assado no forno é certo à sexta-feira; sábado é dia de tripas com feijão.
Por encomenda, para quatro comensais, número mínimo, é possível confecionar bacalhau assado no forno e arroz parolo com costelas,
Sem número mínimo, há, mediante reserva, vários assados no forno -- cabritinho, particularmente apreciado -- bacalhau cozido com todos; galo de cabidela e peixe ao sal.
Nas sobremesas, a escolha pode variar entre dois pudins - de ovos ou de café - queijo com doce de abóbora e rabanada.
Carta de vinhos de muito bom nível; serviço afável neste restaurante que até parece um segredo bem escondido, um refúgio da boa cozinha portuguesa, feita com arte e saber.
Daniel, em Rio Tinto.
Onde fica:
Localização: Rua Mendalho 149, 4435-334 Rio Tinto (Gondomar)
Telef.: 224 801 369 ; 939 356 707