Uma das famílias mais ricas da Alemanha descobre passado nazi e vai doar dez milhões
A família Reimann, uma das mais ricas da Alemanha, descobriu o passado nazi das sua fortuna e quer doar dez milhões de euros. "Deviam ter sido presos", defende o porta-voz da família, que tem 33 mil milhões de euros.
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A família Reimann, fundadora da JAB Holding, é dona de marcas mundialmente famosas como a Calgon ou os cafés Jacobs. Mas quase 80 anos depois do início da Segunda Guerra Mundial enfrenta revelações sobre seu passado nazi. Uma investigação do jornal Bild am Sonntag revela que durante o regime nazi houve violência e trabalhos forçados nas fábricas e em casas da família.
O jornal apresenta documentos inéditos que mostram doações dos Reimann ao Partido Nazi e publica uma carta que Albert Reimann, patriarca da família, enviou a Heinrich Himmler, mentor do Holocausto. Na carta, o empresário descreve a fábrica como "uma empresa familiar centenária e ariana pura". E acrescenta: "Os proprietários são apoiantes incondicionais da doutrina racial." A fábrica, que produzia artigos para as Forças Armadas e indústria de armamento, foi considerada "crucial" para o esforço de guerra nazi.
Um dos capatazes ao serviço do empresário ficou conhecido por tratar de forma cruel os 175 trabalhadores forçados, que eram sobretudo mulheres de leste feitas prisioneiras depois da invasão alemã, e alguns foram utilizados na construção da vivenda familiar. Durante os ataques aéreos, os trabalhadores soviéticos eram enviados para fora dos abrigos e para uma morte quase certa. Os Reimann queixaram-se às autoridades nazis da "sua preguiça". Há ainda relato de abusos sexuais e prisioneiros espancados, incluindo uma mulher soviética que limpava a casa dos Reimann.
Os negócios da família eram conduzidos por pai e filho que partilhavam o mesmo nome - Albert Reimann. Segundo o mesmo jornal alemão, o historiador Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld, analisou os arquivos e concluiu: "Pai e filho Reimann não eram oportunistas, mas nazis convictos."
"Deviam ter sido presos"
O passado nazi há muito que inquietava a família. Em 2014, os Reimann decidiram contratar um historiador para esclarecer os pormenores sobre a empresa. As conclusões da investigação realizada pelo professor Paul Erker, da Universidade de Munique, deverão ser publicadas, em livro, no próximo ano, mas já foram apresentadas a quatro filhos e um neto de Reimann.
Em declarações ao jornal alemão, o porta-voz da família, Peter Harf, descreveu a reação dos Reimann: "Quando o professor Erker apresentou o seu relato, ficámos sem palavras, envergonhados e brancos como a cal. Não há nada a encobrir, os crimes são nojentos." O porta-voz não mostrou piedade para Albert Reimann, que morreu em 1954, nem para com o filho mais velho, que morreu em 1984. "Na realidade, deviam ter sido presos", afirmou.
No entanto, os herdeiros estão "aliviados por finalmente se esclarecer o caso" e decidiram doar dez milhões de euros a "uma instituição adequada", anunciou ainda Harf.
O império económico dos Reimann teve início no século XIX, quando Johann Adam Benckiser e Karl Ludwig Reimann criaram uma fábrica de produtos químicos na cidade de Ludwigshafen. A família tem participação no grupo Reckitt Benckiser, responsável por marcas como a Clearasil e Calgon. A carteira de investimentos dos Reimann conta também com as marcas de perfumes Calvin Klein e Gucci.
Já segundo a revista Manager Magazin, em 2018, os Reimann ocupavam o segundo lugar na lista das famílias alemãs mais ricas, com 33 mil milhões de euros.
Várias empresas alemãs que beneficiaram de trabalho escravo durante o regime nazi têm sido levadas a tribunal nos últimos anos.
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