O Museu Municipal de Vila Franca de Xira anda a dar cartas na salvaguarda da memória das lojas históricas que deixam de resistir aos novos tempos.
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Quando a 26 de setembro de 1926, José Porfírio da Silva e a mulher abriam a porta da nova chapelaria, não imaginavam que mais de 90 anos depois ainda se falasse das criações que ali nasceram, nas instalações da antiga Ourivesaria Bezina, na Rua Miguel Bombarda, em Vila Franca de Xira.
Cartolas, chapéus à portuguesa, de aba larga ou pequena e boinas. Tudo feito à medida, quase uma ciência. Outros tempos, lembra Inês Rodrigues, técnica superior de História de Arte do Museu Municipal , que conta que a chapelaria tinha ainda outras vertentes porque também vendia fatos e livros que "o senhor Porfírio ia comprar à Bertrand, em Lisboa, e depois vendia aqui".
Mais tarde, após o falecimento de José Porfírio da Silva, a chapelaria passou para as mãos do seu aprendiz desde os seis anos de idade, Fernando Gomes dos Santos. É com a morte deste, em 2007, que a coleção chega ao Museu Municipal, aquando a doação efetuada pela sua viúva em 2009.
Dez anos depois de ser doado o espólio da chapelaria, que inclui chapéus mas também ferramentas, documentos, anúncios e fotografias, o museu decide partilhar a herança que recebeu com uma exposição intitulada "As Memórias da Chapelaria Porfírio" e uma oficina chamada "Chapelices e outras esquisitices"
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A ideia, inserida no projeto educativo do museu, foi distinguida com a menção honrosa da Associação Portuguesa de Museologia em maio. Paulo Silva, técnico superior do Serviço Educativo, não podia estar mais orgulhoso desta oficina que dá a conhecer aos mais novos as artes da chapelaria artesanal.
A vereadora da cultura da Câmara Municipal, Manuela Ralha, garante que não vão ficar por aqui em nome da preservação da memória. Depois de a autarquia ter herdado o espólio de um oculista, que também será transformado numa exposição, a vereadora soube que há uma semana encerrou a última alfaiataria da cidade.
Por enquanto não há sinais de oculistas e alfaiates e são os chapéus a dominar o espaço do museu. Além das peças históricas, por ali há chapéus de bruxa, de pirata, enfermeira, chefe de cozinha, cartolas e alguns chapéus meio loucos que fariam as maravilhas do chapeleiro da Alice.
A exposição tinha fim previsto para 30 de janeiro de 2019, mas o prazo foi prolongado até 28 de julho.