A exposição "Aljustrel - 100 anos, do Fundo à Superfície" está patente até 4 de dezembro na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, no município alentejano.
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A greve dos mineiros de Aljustrel há 100 anos, em 1922, dá o mote à iniciativa que em 80 painéis expositivos conta as lutas de uma terra antes e depois do 25 de Abril. "Esta greve durou cerca de 4 meses e teve uma repercussão nacional e internacional", revela Manuel Camacho, lembrando que "gerou uma onda de solidariedade que pode ser testemunhada nesta exposição".
Manuel Camacho, que em tempos foi presidente da câmara municipal de Aljustrel, conta que na altura "cerca de 250 crianças de Aljustrel foram recebidas durante 4 meses em casas de famílias no Barreiro, em Lisboa, Beja, Almada, S. Bartolomeu de Messines, para que a sua fome fosse amenizada", conta.
No entanto, a exposição não se cinge a essa greve mineira que marcou a vila e faz uma retrospetiva da história, das lutas e da resistência à repressão do Estado Novo por parte de uma vila que viveu sempre à volta da mina.
Numa das paredes há a foto de todos os mineiros presos pela PIDE. Numa visita guiada, Manuel Camacho recorda que "entre a década de 30 e a década de 70 Aljustrel teve 350 presos nas prisões da PIDE, o que é um número eloquente, a esmagadora maioria mineiros".
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Da greve, que é o ponto de partida para a exposição, já não há testemunhos vivos, mas Francisco Nilha Jorge, 91 anos, e mineiro durante 30, lembra-se de outras lutas, como a greve de 1960 em que pediam os patrões apenas mais 15 tostões de salário. "O nosso salário era 31 escudos e pedíamos mais 15 tostões, mas os patrões decidiram despedir 14 mineiros".
Em protesto contra este despedimento, os mineiros de serviço recusaram-se a sair da minas só o fizeram quando o ar e os alimentos acabaram. A voz já lhe fraqueja e tem que se apoiar no cajado para andar, mas Francisco tem a memória bem viva e lembra-se do episódio.
O antigo mineiro recorda que aos trabalhadores que se encontravam no fundo da mina garantiram que o problema estava resolvido. "Os mineiros deixaram-se enganar, sairam da mina e foram diretamente nas" ramonas" para Caxias. 120 trabalhadores!", enfatiza.
Manuel Camacho duvida que hoje pudesse existir tanta resistência. "Registamos isso com alguma mágoa porque existia solidariedade em tempos passados em condições extremamente difíceis, onde não havia liberdade". Nos dias de hoje "há liberdade, mas, contudo, há algumas amarras e as pessoas não conseguem visualizar o melhor para si e para as gerações vindouras", lamenta.
Integrada nesta exposição, a 3 de dezembro, o Cine Oriental, em Aljustrel, recebe a estreia nacional da peça de teatro "A Mina", que junta no mesmo palco a companhia Lendias d"Encantar e atores amadores de Aljustrel.
Para marcar o fim da mostra, a 4 de dezembro, Dia de Santa Bárbara (padroeira dos mineiros), tem lugar um espetáculo de cante alentejano, bailado, poesia e música com artistas locais e internacionais.