Uma idade rara, um percurso ímpar. Manuela de Azevedo condecorada aos 105 anos
O Presidente da República aproveitou a homenagem organizada pelo Sindicato dos Jornalistas e pelo Museu Nacional da Imprensa para entregar uma prenda muito especial à aniversariante.
Corpo do artigo
Manuela de Azevedo foi a primeira mulher portuguesa a receber a carteira profissional de jornalista. Nasceu a 31 de agosto de de 1911, faz esta quarta-feira 105 anos de vida e quase seis décadas de profissão.
A jornalista e escritora apagou as velas dos seus 105 anos colocadas num bolo em forma de máquina de escrever e perante um coro, que incluiu a voz do Presidente da República, com quem trabalhou.
Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a homenagem organizada pelo Sindicato de Jornalistas e pelo Museu Nacional da Imprensa, para condecorar a decana dos jornalistas.
"Estamos aqui não por fazer 105 anos, mas por ser a Manuela de Azevedo", garantiu o Presidente da República, até ser interrompido pela aniversariante para comentar que "é muito ano para uma pessoa só".
"Não é não. É uma idade rara, mas muito boa", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa para acrescentar que o dia serviu para agradecer à jornalista e a condecorar com a Ordem da Instrução Pública já que a centenária recebeu outras condecorações pelo Mérito, Liberdade e Luta pela Liberdade em 1995 e 2014.
A condecoração foi acordada com o primeiro-ministro, António Costa, cuja mãe trabalhou com Manuela de Azevedo e serviu para o único comentário de Marcelo não dedicado à homenageada.
"Ele [António Costa] era para ter vindo cá, mas não pôde, porque o Presidente acaba por ter menos trabalho que o primeiro-ministro e o primeiro-ministro estava ocupado hoje de manhã.
Entre os episódios que contou, com uma invejável lucidez e descrições visuais, Manuela de Azevedo recordou as viagens que fez com Marcelo Rebelo de Sousa quando os dois partilhavam o ofício de jornalismo.
Na memórias da jornalista inclui-se uma reportagem sobre misérias escondidas nas chamadas furnas de Monsanto, na zona de Lisboa."antes do 25 de Abril [de 1974]". Manuela de Azevedo foi também à caça do cachalote na Madeira e fitou a censura para escrever sobre a eutanásia na década de 1930.
Foi aspirante a criada, posição que aproveitou para relatar a vida do Rei Humberto de Itália, a quem Salazar permitiu que se refugiasse em Portugal, com residência na Quinta da Piedade (Sintra).
Ser mulher numa profissão de homens até foi "muito fácil", garantiu Manuela de Azevedo, que comentou como o "decano Norberto de Araújo no Diário de Lisboa" a 'batizou' de "lagartixa, por "mexer em toda a parte à procura de assuntos".